Registo | Entrar
PT EN

Tokyo 2020 - O Atletismo dia a dia

Tokyo 2020 - O Atletismo dia a dia

Julho 30, 2021 / 764

Tokyo 2020 - O Atletismo dia a dia

Caros atletas!

Começou o Atletismo em Tóquio e cá estamos para te resumir o dia.
Vamos concentrar atenções nas finais.

Com a pandemia ainda na ordem do dia, os jogos olímpicos de Tokyo 2020 apresentavam um novo desafio. Devido a todas as restrições sanitárias, ainda com o Japão na fase do estado de emergência, os atletas tinham de manter o foco nas competições tentando abstrair-se de todo o ruído a volta, dentro do possível.
Com o atraso de um ano em relação ao previsto, houve atletas que beneficiaram do mesmo atraso para recuperar de lesões graves, enquanto outros que tiveram lesões prolongadas desde o verão passado, ficaram a perder e não podem participar no evento, como o caso do duplo campeão olímpico do triplo salto Christian Taylor, com uma lesão no tendão de aquiles em maio.
Sem público para poder assistir ás competições, e dar a ajuda extra aos atletas, um fenómeno habitual nos grandes eventos de altetismo, as provas arrancaram na madrugada de sexta-feira e prometem muita emoção, mesmo com todos os imprevistos desde o ano passado.
Boa sorte para todos !

Day1

10000 m (M)

Sem o duplo campeão olímpico Mo Farah, Tokyo seria o palco da consagração de um novo campeão dos 10000m. Desde 1996, tivemos 3 bicampeões olímpicos : Gebrselassie (96+00), Bekele (04+08) e Farah (12+16), 3 superatletas que conseguiram repetir o titulo de forma consecutiva. O que quer dizer que o vencedor da edição deste ano, para seguir o "ritual", será também o campeão olímpico em Paris 2024 ! 

No lote dos favoritos, Joshua Cheptegei (UGA), 24 anos, tem o record do mundo dos 10000 (26:11.00) e 5000 (12:35.36) (conseguidos em 2020) e é o atual campeão do mundo (2019). Num ano fabuloso, tambem bateu o record do mundo de estrada dos 5km e 10km. O seu compatriota Jacob Kiplimo, 20 anos, é o campeão do mundo da meia maratona (2020) e tem a melhor marca mundial do ano dos 10000m (26:33.93).

E que grande final tivemos para o arranque das provas do atletismo. Com uma tática "louca", o também ugandês Stephen Kissa fugiu do pelotão cedo, para tentar desgastar a concorrência (uma estratégia de "seleção") ao estilo "lebre" e abandonou a meio da prova. Quem procurou apanhar o ritmo acabou mais desgastado, mas os principais favoritos mantiveram-se na luta até os últimos metros. Selemon Barega, da Etiópia, arrancou a cerca de 600 metros da meta, e mesmo com a reação pronta de Cheptegei e Kiplimo, conseguiu chegar a meta em primeiro, a sua primeira grande vitória em competições internacionais, com apenas 21 anos (ganhou a prata nos mundiais de Doha em 2019). No seu país é o sucessor de Bekele como campeão olímpico.

Hoje foi dia de qualificações nos 100 metros e no triplo mas lá chegaremos quando se disputarem as finais.

Day2

Disco (M)

Todo o favoritismo recaía do lado do sueco Daniel Stahl, leader mundial com 71,40m e com 3 das 4 melhores marcas do ano.
E o actual campeão do mundo não desiludiu: ao segundo lançamento tomou conta do concurso e nunca mais largou a primeira posição, com 68,90m. Bela resposta de um atleta que não tinha chegado a final dos jogos do Rio de Janeiro. Desde então o sueco tem dominado a modalidade. Por exemplo, só perdeu 2 vezes em 19 provas em 2020 e 1 vez em 13 este ano!

Um óptimo dia para a Suécia, que fez a dobradinha: Simon Petterson fez 67,39m ao quinto ensaio e agarrou a prata. Lukas Weisshaldinger, da Austria, venceu o bronze com 67,07m. A jovem promessa eslovena Kristjan Ceh, de apenas 22 anos, ficou com um meritório quinto lugar (ele que já passou a barreira dos 70 metros), e será um atleta a seguir nos próximos anos.

4x400m mistos

Estreia nos jogos. uma prova um pouco estranha principalmente porque é possivel existir percursos com homens e mulheres na mesma volta (o que desequilibra em demasia as forças em prova), o que felizmente nao aconteceu na final. Os finalistas optaram por uma sequência H-M-M-H, mais justa. A equipa polaca fez história ao vencer a primeira medalha de ouro. A surpreendente equipa da República Dominicana aguentou os últimos ataques, para o que parecia ser segurar a medalha de bronze, mas ainda fez melhor e ainda venceu a prata na meta. Os Estados Unidos ficaram com o bronze, com alguma desilusão aparente.

100m (W)

Prova rainha nas grandes competições de atletismo, os 100m prometiam mais uma grande batalha entre as duas sprinters jamaicanas mais cotadas. Com um dominio absoluto das respectivas séries e meias-finais, Shelley-Ann Fraser-Pryce e Elaine Thompson-Herah deram show, e Tokyo assistiu a mais uma final eléctrica. 

Fraser-Pryce, segunda marca da historia com 10,63 e dupla campeã olímpica em 2008 e 2012, queria vencer o seu terceiro titulo na distância, enquanto Thompson-Herah procurava igualar a sua rival, porque venceu o titulo no Rio de Janeiro. 
E a actual campeã olímpica fez a diferença com uns expressivos últimos 50 metros, a semelhança do que fazia a lenda Usain Bolt, deixando Fraser-Pryce a um metro na meta (com 10,74).
10,61 é a segunda marca olímpica mais rápida da história, batendo a anterior marca de 10,62 da falecida e ainda recordista do mundo Florence Griffith-Joyner (10,49 de 1988)

A Jamaica completou o pódio com o bronze para Shericka Jackson, habitual especialista dos 400m mas que fez uma boa época nos 100m, com sua melhor marca pessoal com 10,76.
Um festejo efusivo para Thompson-Herah, que não foi acompanhado pelas suas rivais, que demoraram a congratular a companheira, parecendo existir uma certa frieza nas reacções, apesar de ser uma tripla vitória para a Jamaica.
Uma última nota para a Suiça, que conseguiu a extraordinária proeza de colocar 2 atletas na final (Ajla del Ponte em quinto e Mujinga Kambundji, as duas abaixo dos 11 segundos).

Day 3

Peso (W)

A chinesa Lijao Gong confirmou o favoritismo e sagrou-se pela primeira vez campeã olímpica (depois do bronze em Londres 2012 e a prata no Rio 2016, e de 2 títulos mundiais em 2017 e 2019). E não deu grandes hipóteses a concorrência com a sua melhor marca pessoal (20,58m). A americana Raven Saunders deu mais luta, com a prata, ainda assim abaixo dos 20 metros (19,79m).
Por fim a atleta neo-zelandesa (Dame) Valerie Adams, atleta mais titulada da historia da modalidade (era a dupla campeã olímpica e detentora de 4 títulos mundiais) "partiu o coração" dos portugueses ao conseguir o bronze, com 19,62m, apenas 5 centímetros acima da marca da nossa atleta Auriol Dongmo (19,57m) manifestamente emocionada e frustrada por ter ficado tão perto do objectivo, apesar de ter feito um concurso muito regular. No entanto bastou um lançamento certeiro de Adams (meia-irmã do jogador da NBA Steven Adams) para fazer a diferença, uma crueldade que faz parte do desporto.

Salto em Altura (M)

Uma final com um final frenético de que não há memoria. Mas vamos por partes. Depois de un longo caminho de lesões e contratempos, o incrivel atleta Mutaz Barshim recuperou e chegou a tempo dos mundiais de Doha 2019 no seu país, e ajudado pelo público, sagrou-se campeão do mundo (quem nao se lembra da última tentativa a 2,33m, a beira da eliminação, com a pressão toda em cima e com o herói da casa a passar, como se fosse a primeira tentativa). O actual duplo campeão do mundo procurava o seu primeiro título olímpico aos 30 anos (depois do bronze em Londres e a prata no Rio) mas um atleta europeu nunca o deixou "descansado".
O italiano Giamarco Tamberi, tal como Barshim, passou todas as fasquias até 2,37m á primeira tentativa. Mas nenhum dos dois conseguiu passar 2,39m. Os juizes deram a escolher: segundo as regras, baixam a fasquia e só  há um único salto para cada um para decidir o vencedor. No entanto, existindo esta possibilidade, os atletas decidiram partilhar o título e ... começou a festa !!
Barshim conquistou o título que lhe faltava, e Tamberi, um ano mais novo, ganhou o título mais importante da sua carreira. O italiano, que era antigamente conhecido por usar um visual arrojado, com o rosto com metade da barba feita, trouxe consigo para Tokyo o gesso da perna, alusiva a lesão grave que o impediu de competir no Rio de Janeiro. O "adereço" acompanhou-o sempre junto a pista de tartán, e com a inscrição "road to Tokyo 2020, e o 2020 riscado para 2021!". A resiliência que representa o verdadeiro espírito olímpico. Uma grande figura sem dúvida !!
Uma nota final para o último lugar do pódio, o jovem bielorusso Maksim Nedasekau, de 23 anos, que fez a mesma marca que os campeões, 2,37m, mas falhou uma fasquia no inicio do concurso.

Triplo Salto (W)

Um grande dia para mais uma final épica. De facto, a indiscutivel leader da modalidade, Yulimar Rojas, pelo que vimos na qualificação, não só estava presente para o ouro mas com a esperança de finalmente chegar ao record do mundo. A venezuelana, medalhada com a prata no Rio apenas com 20 anos (primeira atleta do país a ganhar uma medalha olímpica) e actual dupla campeã do mundo, puxou dos galões logo no primeiro salto, com 15,41m, somente a 9 centímetros do record mundial. 
Estava dado o mote, e a nossa Patricia Mamona seguiu o caminho, com um primeiro ensaio que acabaria por garantir a inesquecivel medalha de prata (14,91m, ninguém fez melhor para além de Rojas, a não ser.. Mamona). No entanto a atleta portuguesa haveria de conseguir melhor (com 15,01m, segundo record nacional na final) na sua melhor prova da sua carreira, aos 32 anos. Estava em grande forma e confirmou-o de uma forma inesquecivel. Afinal só duas atletas passaram os 15 metros, a extraterrestre venezuelana e a nossa talentosa beldade (havia alguém mais elegante na apresentação das finalistas ?)
E o espectáculo haveria de acabar em apoteose : Rojas, no seu último salto, voou até os 15,67m e acabou por conseguir o grande objectivo: bateu o record do mundo com mais 17 cm (que datava de 1995). Que salto ! só faltou o estádio cheio.
Por fim, haveria de ser uma final em grande para a península ibérica, com o bronze para a espanhola Ana Peleteiro, com a marca de 14,87m, novo record nacional espanhol.
A colombiana Caterine Ibarguen, dentetora do titulo, esteve longe da sua melhor forma, e acabou em décimo (com 14,25m)

100 m (M)

Quem vai suceder ao imparavel Usain Bolt ? Era a grande questão, e se normalmente, é a prova mais aguardada das grandes competições de atletismo, desta vez a falta do astro jamaicano, e as duas finais anteriores do mesmo dia acabaram por diminuir este entusiamo (de certa maneira, já estávamos com a "alma cheia")

Com a melhor marca mundial do ano (9.77) fora da final (e o americano Trayvon Bromell só chegou ás meias finais por repescagem, claramente fora de forma, apesar de um percurso de vida incrivel e uma recuperação física e mental fora de comum), as esperanças americanas recaíam agora no Fred Kerley (antigo alteta dos 400m) e no Ronnie Baker (9,91 este ano).
Com o antigo campeão mundial Johan Blake tambem muito longe do seu auge, o que se veio a verificar ao falhar a presença na final, o canadiano André De Grasse era um dos favoritos, apesar de nao ter impressionado de manhã nas meias finais.

Mas acabou por ser o italiano Lamont Marcell Jacobs a levar a melhor (nascido nos Estados Unidos, mudou-se para Italia ainda bébé) com 9,80, depois de ter impressionado nas meias finais. Com uma grande ponte final, Jacobs tornou-se no primeiro italiano a ganhar os 100m de uma grande competição internacional e acabou por estabelecer um novo record da europa (que pertencia ao nosso Francis Obikwelu, e ao francês Jimmy Vicault)
Fred Kerley personificou a desilusão na meta, esperando mais. André De Grasse voltou a ganhar uma medalha de bronze, confimando que não dava para o ouro mas continua a ser um sprinter muito fiável. Mas agora sem Bolt, pode ter ficado um amargo de boca, para ele e os outros que tinham outras aspirações.

Nota final para o atleta Dorian Keletela, nascido na Républica do Congo, e que representou a equipa olímpica de refugiados no Japão. Chegou a Portugal em 2016 depois de perder os pais no conflito no seu país. Está no Sporting desde então, treinado pelo mítico Francis Obikwelu. Venceu a terceira serie em Tokyo, seguiu para a segunda ronda e fez o seu record pessoal com 10,33. Existem possibilidades de vir a representar Portugal no futuro.

Day 4

Salto em comprimento (M)

Impressionante na qualificação com um primeiro e único salto com 8,50m, era difícil não atribuir o favoritismo ao cubano de 22 anos Juan Miguel Echevarria (conseguiu o bronze nos mundiais de Doha).
Um concurso que só animou na parte final, e de que maneira. À entrada para o último salto, Echevarria e o  compatriota Maykel Masso estavam na frente para conseguir a dobradinha para Cuba (8,41m e 8,21m respectivamente). Claramente limitados fisicamente, não fizeram os saltos todos.
E a última ronda foi dramática: o sueco Thomas Montler faz um salto extraordinário, possivelmente para o ouro, seguramente para uma medalha, mas o salto foi nulo por 1,5 cm, perante a incredulidade do próprio, deitado junto a plasticina. De seguida o espanhol Eusebio Cáceres faz 8,18m e chega ao terceiro lugar... temporariamente.
E é nesta altura que acontece o golpe de teatro: o grego Miltiadis Tentoglou, actual campeão da europa (8,60m esta época) e fora das medalhas no momento, num salto fantástico, iguala Echevarria com 8,41m. Segundo as regras, o cubano, que ainda tem um último salto, tem que fazer pelo menos 8,16m porque o melhor segundo salto do grego é de 8,15m. No entanto, Echevarria bem tenta mas não consegue saltar, por causa da lesão. Os 2 atletas mereciam o ouro (como no salto em altura) mas é a regra, cruel neste caso. por causa da limitação física do cubano.

Ultimas notas: primeiro para o jovem americano de 22 anos Juvaughn Harrison (que também competiu no salto em altura na véspera com um brilhante sétimo lugar com 8,33m) que fez 8,15m e cheirou as medalhas. Um atleta a seguir no futuro, até porque se trata do primeiro a qualificar-se para as duas provas desde Jim Thorpe em... 1912 !!
E não só qualificou-se, como foi brilhante nas finais. 

E por fim, para o jamaicano Talay Gayle, campeão do mundo em Doha com uns incrivéis 8,69m. Lesionado durante a qualificação, ainda conseguiu uma marca para chegar a final, mas hoje desistiu depois do primeiro salto.
Uma final marcada por demasiadas lesões, infelizmente.

100m barreiras (W)

Apesar do favoritismo a entrada para a competição de Tokyo recair para o lado da detentora do record do mundo Kendra Harrison (que não esteve no Rio mas o record do mundo é também de 2016, com 12,20 e ganhou a prata nos mundiais de Doha em 2019), as meias finais colocaram uma dúvida sobre a possível vencedora.
Jasmine Camacho-Quinn, de Porto Rico (com 12,32 em abril e este ano com 5 das 6 marcas mais rápidas) foi supersónica na meia final com uns explosivos 12,26. 
E confirmou tudo na final, com o segundo título olímpico de sempre para Porto Rico (a tenista Monica Puig venceu o ouro no Rio contra todas as expectativas), com a marca de 12,37. A porto riquenha apanhou um susto na penúltima barreira mas conseguiu recompor-se, abrandou para passar a última (porque tinha algum avanço) e finalizou com classe. Uma prova muitas vezes ingrata, que já teve muitos imprevistos ao longo da história, a mais famosa é da queda da americana Gail Devers na última barreira em Barcelona 1992, que lhe tirou a possibilidade de uma inédita dobradinha juntamente com os 100m (prova mais renhida da história, decidida no "photo finish", e com as primeiras 5 atletas a acabar em 0,06 !!)

Kendra Harrison (12,52) e a super feliz jovem jamaicana Megan Tapper (12,55) venceram as outras medalhas.  

Disco (W)

Sandra Perkovic, da Croácia, era a grande favorita com o seu grande currículo (ouro em 2012 e 2016, 2 titulos mundiais e 5 titulos europeus. No Rio só teve um lançamento válido em 6 e valeu o ouro (69,21). Ouro nos mundiais de 2017 com 70,31, bronze em Doha com 66,72). 
No entanto a concorrência era forte, e a antiga dançarina profissional (que de facto não tem propriamente físico habitual de lançadora de disco) Valarie Allman colocou a "fasquia" muito alto, logo no primeiro ensaio, com uns impressionantes 68,98m e fez imediatamente a diferença, e ninguém conseguiu responder a americana.
Nem a actual campeã mundial Yaima Perez, de Cuba, que acabou com o bronze com a marca de 65,72m, muito longe da nova iorquina. Quem acabou por surpreender foi a jovem alemã Kristin Pudenz com um record pessoal de 66,86m e a medalha de prata.
Um concurso muito perturbado pela chuva intensa que caiu e que fez com que várias atletas deixassem cair o disco sem sequer terem conseguido realmente lançar. Num dos casos, a nosso brilhante Liliana Cá escorregou no círculo, o que parece ter afectado o seu, até então, magnífico rendimento. Tanto que acabou por infelizmente não lançar na sua sexta e última tentativa. Acabaria num excelente quinto lugar com 63,93m, atrás de Sandra Perkovic, desta vez fora das medalhas.

3000 obstáculos (M)

Desde 1968 que o Quênia domina a distância, e só não dominou mais porque boicotou 2 edições... (1976 e 1980)
Um domínio absoluto, que se esperava ter seguimento em Tokyo, com Abraham Kibiwott (sétimo em Doha) e 
Benjamin Kigen (sexto em Doha) bem posicionados, apesar do vencedor dos trials quenianos, Leonard Bett, não ter chegado a final.
Os rivais da Etiópia têm sempre uma palavra a dizer mas o herói acabou por vir de outro país africano.
O marroquino Soufiane El Bakkali, quarto no Rio, prata nos mundiais de Londres 2017 e bronze nos mundiais de Doha 2019, manteve-se sempre no grupo da frente e deu um ataque fabuloso na última curva e venceu de uma forma inequívoca e fez história.
Lamecha Girma da Etiopia e Benjamin Kigen do Quênia ficaram com as outras medalhas.

5000m (W)

A última final do dia tinha um interesse particular. A holandesa Sifan Hassan iniciava o seu incrível triplo objetivo, nunca alcançado por nenhum atleta: procurar vencer o ouro nos 10000, 5000 e 1500. Uma tarefa de Hércules, até porque muitos pensavam pouco sensato participar na mesma competição nos 1500 e 10000 nos mundiais em 2019. E fez história em Doha com os 2 títulos conquistados.
Se tudo correr conforme previsto, fará 6 corridas: 3 de 1500, 2 de 5000 e a única de 10000. O que vai originar mais desgaste até porque ninguém que vai estar na final dos 1500 estará nas outras 2, ou por exemplo, a sua rival nos 5000 e 10000 (a queniana Letesenbet Gidey) decidiu dedicar-se aos 10000 unicamente. 

A verdade é que o primeiro objectivo foi conseguido, com o brilho a que já nos habituou.
E tem, à semelhança de Mo Farah, muita concorrência com "equipas" de outros paises contra ela.
Mas até agora, nada parece perturbar Hassan, nem mesmo a queda na serie dos 1500m, onde foi de novo brilhante.

Numa prova relativamente lenta, as grandes rivais para os 5000m não conseguiram suster o último ataque da meia fundista holandesa, mais uma vez poderosa no final. Apontadas como possíveis vencedoras, a queniana Helen Obiri (ouro nos mundiais de 2017 e 2019 e prata no Rio) conseguiu a prata e a etíope Gudaf Tsegay (melhor marca mundial do ano e bronze nos 1500 no Rio) ficou com o bronze. 

Day 5
Talvez o mais espectacular dia até agora

Salto em comprimento (W)

Um concurso que prometia muito equilíbrio e assim foi. A multi-medalhada Brittney Reese (4 vezes campeã do mundo, campeã olímpica e vice no Rio) estava na linha da frente mas a luta pelo título só realmente teve emoção na parte final, a semelhança da prova masculina.
A entrada para o último salto, ninguém tinha conseguido chegar a marca dos 7 metros. Aparentemente o ouro estava destinado a Reese ou a nigeriana Ese Brume (bronze em Doha e melhor marca mundial do ano com 7,17m)
Empatadas com 6,97m, a americana conseguiu a melhor segunda marca (6,95m contra 6,90m). Mas no último ensaio, tudo mudou. A alemã Malaika Mihambo (que estudou ciência politica na universidade de Mannheim) campeã do mundo em Doha, foi a única a chegar aos 7 metros (7,00m precisamente) e conquistou o ouro olímpico. 

400m barreiras (M)

Uma das finais mais esperadas dos jogos. O duelo entre o duplo-campeão do mundo Karsten Warholm (46,92 em Doha 2019 e 46,87 em 2020) e a jovem promessa norte americana Rai Benjamin (prata em Doha 2019 com 46,98 e 46,83 este ano) prometia. Mais ainda quando, já este ano, o norueguês bateu o velho record do mundo de Kevin Young (46,78) datando de 1992 (JO Barcelona). Warholm fez 46,70 em Oslo.
E o duelo foi fenomenal. Num mano a mano incrível, o norueguês nunca deixou o americano passar a frente, e voltou a bater o record do mundo, com uma marca do outro mundo, abaixo dos 46 segundos !! (45,94). Uma das maiores proezas da história do atletismo. 

Na mais fenomenal final dos 400m barreiras da história, Benjamin fez 46,17 e o jovem talento Alison dos Santos conseguiu 46,72. O brasileiro de apenas 21 anos (duas medalhas de ouro em 2019, nos campeonatos universitários e nos jogos pan americanos) tem uma história pouca comum: aos 10 meses de idade, um acidente doméstico, com uma panela de óleo quente, deixou-o com queimaduras de terceiro grau na cabeça e cicatrizes visíveis, que o faz parecer mais velho. Esteve internado 2 meses até ter alta... e hoje é medalhado olímpico, na final mais rápida da história !

Salto a vara (M)

Depois da infelicidade do actual campeão do mundo Sam Kendricks, que testou positivo a Covid-19 na véspera do inicio das provas de atletismo, dificilmente se podia prever outro desfecho que o título para o prodígio sueco Armand Duplantis (prata em Doha 2019, 2 records do mundo em fevereiro 2020: 6,17 na Polónia e 6,18 na Escócia e ainda 6,15 em setembro em Roma).
E foi praticamente uma competição a parte para "Mondo" (alcunha do sueco). Passou todas as fasquias a primeira (5,55 / 5,80 / 5,92 / 5,97 / 6,02) e prescindiu dos saltos a 5,70 e 5,87. Com a situação das medalhas definidas, e perante o olhar de todos os outros competidores da final, Duplantis pediu para colocar a fasquia a 6,19 (17 centímetros mais alto..) para tentativa de record do mundo. E esteve tão perto de passar no primeiro e até no terceiro salto. E merecia. Mas fez história com apenas.. 21 anos !!

De uma forma algo inesperada, o americano Chris Nilsen, de apenas 23 anos, chegou a prata com uns impressionantes 5,97m (o que deve ter dado gozo ao simpático e azarado Sam Kendricks) e foi quem mais deu "luta" ao sueco.
O campeão olímpico no Rio, Thiago Braz da Silva, venceu o bronze com 5,87m.
O multi-medalhado e antigo recordista do mundo Renaud Lavillenie, da França, não passou dos 5,70m e acabou em oitavo.

Martelo (W)

Apesar de todo o estatuto da polaca Anita Wlodarczyk (ouro em 2012 e 2016; 4 titulos mundiais e 4 titulos europeus; seis records do mundo; primeira mulher a passar os 80 metros), a delicada operação ao joelho em 2019, que lhe impediu de participar nos mundiais de Doha, colocava a atleta veterana de 35 anos numa posição diferente do habitual, em termos de favoritismo.

A americana DeAnna Price (ouro em Doha; 80,31 nos US trials, segunda mulher a passar 80m) estava na linha da frente para suceder a lenda polaca. As outras duas compatriotas, Brooke Andersen & Gwen Berry (78,18 e 77,78 este ano) eram candidatas ás medalhas.

Mas Tokyo reservou outro desfecho para as americanas. E contra todas as expectativas, a dupla campeã olímpica em título voltou ao mais alto nível (com 78,48 no quarto ensaio), colocando a chinesa Wang Zheng longe (com 77,03). Foi um dia de glória para a Polónia, com o bronze para a jovem Malwina Kopron (26 anos) com a marca de 75,49. 
Anita Wlodarcczyk tornou-se assim na primeira mulher na história do atletismo a conseguir 3 títulos olímpicos consecutivos. Que carreira brilhante.
Por fim, uma grande desilusão para o trio de americanas (oitavo, décimo e décimo-primeiro lugar de 12 finalistas).

800m (W)

Sem a presença da ugandesa Halimah Nakaayi, campeão do mundo em Doha 2019, existia algum equilíbrio para a decisão das medalhas. Sem Ajee Wilson que não se qualificou para a final (bronze em Doha), a compatriota Raevyn Rogers (prata em Doha) podia surpreender. No entanto outra americana tomou conta da prova com uns últimos 100 metros fortíssimos. Athing Mu, nascida em New Jersey, de descendência sudanesa, surpreendeu toda a concorrência e tornou-se campeã olímpica aos 19 anos com um novo record nacional de 1:55.21 (ela que tinha conseguido a melhor marca mundial do ano)
Também com apenas 19 anos, a britânica Keely Hodgkinson (campeã indoor nos europeus este ano) venceu a prata com um novo record nacional, foi mais rápida que Rogers, que ficou com o bronze. Um feito para o Reino Unido que conseguiu colocar 3 atletas na final (juntamente com Jemma Reekie, a beira do bronze, e Alexandra Bell, todas com record pessoal)

200m (W)

Esperava-se um novo duelo entre as jamaicanas, a semelhança da final dos 100 metros. Só que desta vez, Shelley-Ann Fraser-Pryce não chegou para as medalhas. Elaine Thompson-Herah foi de novo imparável, com um novo record nacional (21,53 - segunda marca mais rápida da história). De facto, a sprinter apresentou-se em Tokyo no topo da sua forma. Tornou-se dupla campeã olímpica em 100m e 200m, a única atleta a conseguir este feito. Seguramente uma das melhores histórias de Tokyo 2020.

Duas atletas da Namíbia na final é um excelente registo. Christine Mboma (18 anos) venceu a prata (com novo record sub-20 de 21,81) e Beatrice Masilingi (também 18 anos) ficou em sexto (com record pessoal de 22,28)
No entanto existe uma polémica relativamente ás duas atletas. Os registos que as atletas, tão jovens, têm vindo a fazer, levantaram suspeitas junto dos responsáveis da IAAF, que enviaram médicos para a Namíbia. Os testes não revelaram doping mas os exames acabaram por detectar altos níveis de testosterone, o que viola os regulamentos do atletismo sobre hormonas. Segundo as normas desde 2018, um determinado nível de testosterone nas mulheres impede a participação entre os 400m e a milha. As atletas em causa não foram autorizadas a participar nos 400m.

A jovem americana Gabrielle Thomas (24 anos) com 21,62 nos trials (na altura segunda marca mais rápida da história), conseguiu uma brilhante medalha de bronze com 21,87.

Shaunae Miller-Uibo, das Bahamas, especialista dos 400m (com o ouro no Rio) desiludiu e ficou em último.

Day 6
Aproximam-se rapidamente o final dos Jogos Olímpicos mas cada final é uma história de superação.

400m barreiras (W)

Na primeira final do dia, que acabou por ser a mais rápida da história, tivemos a confirmação do favoritismo da dupla norte-americana que fez a dobradinha nos mundiais do Catar de 2019.
Sydney McLaughlin tinha tudo para vir a ser uma atleta de alto nível, conforme demonstrou no Rio de Janeiro, com a presença nas meias-finais com apenas 16 anos de idade. Com uma brilhante medalha de prata em Doha (52,23 e segunda melhor marca da história), a americana subiu mais um degrau, com o record do mundo este ano nos trials (51,90), record que pertencia a compatriota e campeã do mundo Dalilah Muhammad (Doha 52,16).
E tal como na prova masculina, a corrida foi tão boa que McLaughlin voltou a bater o record do mundo, com uns impressionantes 51,46, deixando Muhammad em segundo com uma marca igualmente fantástica de 51,58 !!!
A sensação europeia Femke Boll, da Holanda (52,37 esta época; dupla campeã europeia indoor de 400 e 4x400 este ano) e com apenas 21 anos, conquistou o bronze com 52,03.

3000m obstáculos (W)

Uma final que voltava a ver a rivalidade entra o Quénia e a Etiópia, mas outras duas atletas tinham outros planos para esta prova. Com um pelotão ainda relativamente compacto até perto das últimas 2 voltas, a norte-americana Courtney Frerichs desferiu um ataque fortíssimo, que só teve resposta por parte da jovem ugandesa Peruth Chemutai, que recuperou terreno e passou para a frente para vencer a primeira medalha de ouro olímpica da historia do seu país. O que podia parecer uma táctica suicida por parte da americana acabou por resultar numa medalha de prata, porque no pelotão existiam atletas com melhor sprint final. 
Desilusão para o Quénia, mesmo com o bronze para Hyvin Kiyeng (ouro em 2015, prata no Rio, bronze em 2017) e para Beatrice Chepkoech que ficou em sétima (4ª no Rio, record do mundo em 2018, ouro em Doha 2019), atletas que tinham outras aspirações. 
Nota final para a americana Emma Coburn (bronze no Rio, ouro em 2017, prata em 2019) que sofreu uma queda, acabou em décimo quarto mas foi desqualificada por ter pisado a linha de fora da pista.

Martelo (M)

Seguramente uma das melhores finais de Tokyo. O tetra-campeão do mundo polaco Pavel Fajdek era o claro favorito e procurava o seu primeiro título olímpico (incrivelmente não passou das qualificações em Londres e no Rio), seguido de perto pelo americano Rudy Winkler, leader no trials com 82,71m.
Mas assistimos a uma sequência de lançamentos brilhantes (talvez mesmo a melhor de sempre) por parte do outro atleta polaco Wojclech Nowicki. Conhecido como "eterno terceiro" (bronze nos ultimos 3 mundiais e também bronze no Rio), vale a pena recordar as suas marcas na final: 81,18 / 81,72 / 82,52 / 81,39 / 82,06 (e optou pelo nulo no último já campeão). Um título merecido apesar de sabermos que muitas vezes o mais regular não ganha.
O surpreendente jovem norueguês Eivind Henrikssen venceu a prata com 81,58, deixando Fajdek com o bronze com 81,53 (única marca acima dos 80 metros para o polaco)
Desilusão para Winkler, sétimo, e uma excelente prova do jovem ucraniano de 20 anos Mykhaylo Kokhan, que esteve a cheirar o bronze (e que tinha feito um quinto lugar em Doha, então ainda com 18 anos)

800m (M)

Sem o duplo campeão olímpico David Rudisha, lesionado, o Quénia ainda assim conseguiu redimir-se da desilusão dos 3000m obstáculos femininos. 
Emanuel Korir e Ferguson Rotich conseguiram a dobradinha, num sprint final que parecia ir acabar com o título para o australiano Peter Bol. No entanto o contra ataque da dupla queniana na reta final foi poderoso, acompanhado de muito perto pelo polaco Patryk Dobek, que conseguiu o último lugar do pódio.
Desilusão para o americano Clayton Murphy, vencedor dos trials e terceiro no Rio, e Nijel Amos, do Botswana (repescado para a final por causa de uma queda em que não teve culpa), prata no Rio, que acabaram nos últimos 2 lugares da final.

Nota final para o inglês Elliot Giles, que esteve presente em Tokyo. Em 2014 teve um acidente de mota que quase o deixou sem andar, dois anos depois esteve no Rio para competir. Em fevereiro deste ano, estabeleceu um novo record britânico indoor, que era de Lord Sebastian Coe desde 1983.

200m (M)

Mais uma final para conhecer o sucessor de Usain Bolt na distância, e todo o favoritismo estava do lado do americano Noah Lyles, actual campeão do mundo e com 19,74 no trials. Com alguma sobranceria a mistura (tipicamente americana), antes da chegada ao Japão, disse que sabia que iria ganhar o ouro em Tokyo ("há pessoas que simplesmente sabem que vão ganhar e eu sou uma dessas pessoas")

Só não sabia que nem ia ser o melhor americano na final. Kenneth Bednarek, segundo nos trials com 19,78, foi o atleta que deu mais luta ao novo campeão olímpico André de Grasse, como novo record do Canadá (19,62).
A entrada para os últimos 50 metros, Lyles estava a caminho do título, mas o final impressionante de Bednarek e De Grasse deixou o favorito com o bronze, com 19,74, excelente marca ainda assim.
O canadiano, depois da prata no Rio e bronze em Doha, ganha finalmente, aos 26 anos, o seu primeiro título olímpico e seguramente o mais importante da sua carreira. Trata-se da sua quinta medalha olímpica. Um atleta muito consistente: ganhou uma medalha em cada mundial ou jogos olímpicos em que participou.

Uma nota final para o quarto lugar do jovem americano de apenas 17 anos Erriyon Knighton. Se tiver a evolução que se prevê, tem um grande futuro pela frente.

Day 7

Triplo salto (M)

Campeão Olímpico em 2012 e 2016, o americano Christian Taylor, com uma lesão grave no tendão de Aquiles em maio, não podia defender os seus títulos em Tokyo.

O seu compatriota Will Claye, o eterno segundo (prata nos últimos 2 mundiais, bronze em Londres 2012), tinha a sua grande oportunidade para subir ao lugar mais alto do pódio (também passou por um longo processo de recuperação quando rompeu o tendão de Aquiles em novembro de 2019). Tem a terceira melhor marca da historia com 18,14m, atrás de Taylor (18,21m) e do recordista Jonathan Edwards (18,29m)

Mas o nosso atleta, Pedro Pichardo, foi o mais impressionante na qualificação com 17.71m. E sem sombra de dúvida que puxou dos galões logo no inicio da final, com duas marcas idênticas nos dois primeiros saltos (17,61m), o que viria a ser já inalcançável para a concorrência. O seu terceiro salto acabou de vez com as esperanças dos outros atletas, com uma marca a "beijar" os 18 metros : 17,98m !! Fabuloso.

E o que o Pichardo disse depois da final é comovente e revela a humildade de um atleta de excepção. A pergunta do jornalista da RTP "é um privilégio para nós estarmos com o novo campeão olímpico, o que lhe vai na alma neste momento?", respondeu "o privilégio de representar Portugal é todo meu e pela forma como fui recebido, a única maneira de retribuir é agradecer ao país desta forma". E ainda disse que o objectivo com o pai, que é o treinador, era chegar aos 18,40m na final !!! Ambição ilimitada !! Obrigado Pedro !!

A grande surpresa veio da China, com Zhu Yaming a vencer a prata com 17,57m, com Hugues Zango a ficar com o bronze com 17,47m (o atleta do Burkina Faso venceu também o bronze em Doha e tem o record indoor com 18,07m). Surpresa também para o excelente concurso do argelino de 24 anos Yasser Triki, que chegou a estar nas medalhas, com uma magnífica marca final de 17,43m.

Nota final para Will Claye, quarto lugar com 17,44m, ainda assim boa participação depois de uma longa paragem.
Quando ganhou a prata no Rio (com 17,76m), correu para a bancada, ajoelhou-se e tirou um anel da sua mochila e pediu em casamento a sua noiva, a atleta Queen Harrison.

Peso (M)

Em Doha 2019, vimos uma das mais espectaculares provas de atletismo da historia. Três medalhas com apenas um centímetro de diferença. Joe Kovacs (USA) fez 22,91 enquanto Tom Walsh (NEW) e Ryan Crouser (USA) fizeram 22,90. Épico.

Desde então o domínio tem sido do actual campeão olímpico americano Crouser, que chegou ao record do mundo este ano nos trials com 23,37. E na final domínio é dizer pouco. A semelhança do lançador polaco Nowicki ontem, fez seguramente a melhor sequência de lançamentos da história do lançamento do peso. As marcas são quase inacreditáveis: 22,83 / 22,93 / 22,86 / 22,74 / 22,58 / 23,30. 5 lançamentos muito acima dos 22 metros e o último a 7 centímetros do record do mundo. Inesquecível. 

Os suspeitos do costume voltaram a entrar nas medalhas: Kovacs (prata no Rio) com 22,65m e Walsh (bronze no Rio) com 22,47m, marcas de altíssimo nível,

110m barreiras (M)

Campeão do mundo em Doha e com 12,81 nos trials (a 0,01 do record do mundo de Arries Merritt de 2012), o americano Grant Holloway era a grande figura para o título. 

E até a oitava barreira, seguia fortíssimo na frente mas de uma forma inacreditável, quebrou e viu o jamaicano Hansle Parchment (13,04) recuperar e vencer o ouro, e por muito pouco não viu o outro jamaicano, Ronald Levy (13,10), passar-lhe a frente (13,09 para o americano)

Parchment, 31 anos (bronze em Londres 2012 e prata nos mundiais de 2015), com uma invulgar estatura para um atleta desta disciplina (1,96m), sucede assim ao seu compatriota Omar McLeod, que não esteve em Tokyo porque caiu na primeira barreira nos trials em junho.

20 km marcha (M)

Os atletas da casa estavam na linha da frente no lote dos favoritos mas quem acabou por surpreender foi o italiano Massimo Stano (grandes jogos olímpicos para a Itália) com a marca de 1:21.05
Koki Ikeda & Tashikazu Yamanishi (campeã do mundo em título) ganharam a prata e o bronze.

Salto a vara (W)

Uma disciplina que começou mal nas qualificações. A chuva intensa que se abateu sobre o estádio olímpico de Tokyo prejudicou as atletas (tal como na final do disco feminino, disputada na mesma altura). Esperava-se o adiamento da prova até o dia a seguir mas a organização só optou por atrasar a mesma, o que não nos pareceu sensato. Neste contexto, a favorita Sandi Morris (prata no Rio e nos mundiais de 2017 e 2019) acabou por partir a vara e lesionou-se, falhando assim a hipótese de chegar a final.

E foi provavelmente a final mais decepcionante dos jogos. Demorou a chegar a emoção ao recinto. Muitas tentativas falhadas no inicio, em que a actual campeã do mundo (4,95) Anzhelika Sidorova parecia intocável, passando tudo a primeira até 4,85. A grega Katerina Stefanidi (campeã do mundo em 2017 e actual campeã olímpica) ficou fora do pódio com 4,80.
Katie Nageotte (USA) e Holly Bradshaw (GBR) fizeram uma prova sempre a subir, de trás para a frente, chegando tambem aos 4,85. E na fase decisiva, a única que conseguiu passar 4,90 foi a americana, que se tornou assim campeã olímpica.
Nageotte, no inicio do concurso, só passou a primeira fasquia (5,50) na última tentativa e, ao passar junto das cameras, disse "sorry Mum"... e acabaria com a medalha de ouro !!

400m (M)

Mais uma final, mais um fiasco para os Estados Unidos, fora dos medalhados. 
Campeão do mundo em Doha, o gigante das Bahamas (1,93) Steven Gardiner conseguiu manter-se na frente na última reta, aguentou o ritmo e venceu o ouro a frente do colombiano Anthony Zambrano (prata em Doha).
E um fantástico terceiro lugar para Kirani James, de Grenada (campeão olímpico em Londres 2012, com 19 anos) que passou por muito nos últimos anos (sofre da doença de Graves, que afecta a tiróide, desde 2019, ano em que faleceu a mãe), o que diz muito da perseverança do atleta.
Os americanos Michael Norman e Michael Cherry (primeiro e segundo nos trials) acabaram em quarto e quinto respectivamente. 
 
Heptatlon (W)

Logo na primeira disciplina, a cubana Yorgelis Rodriguez (campeã dos jogos pan-americanos em 2015) caiu na barreira, lesionou-se e os jogos acabaram para ela. Uma de muitas lesões ao longo dos jogos.
A actual campeã do mundo, a britânica Katarina Johnson-Thompson também teve o seu azar. Na quarta disciplina (200m) lesionou-se e teve de desistir. No entanto recusou a cadeira de rodas e acabou a corrida.

A campeã olímpica Nafi Thiam, da Bélgica, tinha o caminho aberto para o título e confirmou o seu estatuto.
Mas não foi tão fácil como se esperava, apesar da lesão de KJT, porque as provas foram muito competitivas.
Thiam acabou com 6791 pts, só 102 pts a frente da holandesa Anouk Vetter. A Holanda fez história ao conseguir também a medalha de bronze, por Emma Oosterwegel.
A Bélgica podia ter feito a dobradinha, com uma grande competição de Noor Vidts, que ficou a apenas 19 pts do bronze.

Decathlon (M)

Para as dez provas do Decathlon, havia três atletas com mais probabilidades de conquistar o ouro: o alemão Niklas Kaul (surpreendente campeão do mundo em Doha com 21 anos), o francês Kevin Mayer (campeão do mundo em 2017, prata no Rio, saiu em Doha por lesão) e o canadiano Damian Warner (bronze no Rio, varias vezes medalhado em mundiais).

Desde a primeira prova, o canadiano tomou conta do concurso, poderoso nos 100m (10:12) e fantástico no salto em comprimento (8,24m, na prova singular tinha dado medalha..) e nunca mais largou o primeiro lugar, ultrapassando a barreira final dos 9000 pts (9018, novo record olímpico)
Mayer, fora das medalhas no primeiro dia, recuperou no segundo, onde por exemplo, foi notável o seu lançamento do dardo, com 73,09. Acabou com a prata com 8726 pts. 
A luta pelo bronze foi renhida, mas Ashley Moloney (21 anos), da Austrália, foi quem acabou melhor, com um total de 8649 pts. O salto em altura (2,11) e 400m (46,24) acabaram por fazer a diferença.

Desilusão para Niklas Kaul, que não competiu no segundo dia, por lesão no salto em altura.

Day 8

50 km marcha (M)

Uma competição sempre muito dura, e mais difícil se tornou com as condições climatéricas do Japão, com muito calor e humidade (mesmo com o arranque da disciplina as 5h30 da manhã, em Sapporo, e não Tokyo)

Aos 25km, o polaco Dawid Tomala fugiu do pelotão, chegou a ter mais de 3 minutos de vantagem, mas apesar de ter acabado com muita dificuldade nos últimos 3 km, conseguiu manter-se na frente até ao fim, com 36 segundos de avanço sobre Jonathan Hilbert. O alemão estava na luta com Marc Tur, conseguiu distanciar-se nos últimos 500 metros e venceu a prata. Inesperadamente, quando tudo levava a crer que o espanhol iria vencer o bronze, uma ponta final tremenda do canadiano Evan Dunfee mudou tudo. Tur parecia já não contar com o regresso do canadiano e deu-se a surpresa.

Uma prova sensacional do nosso atleta João Vieira, de 45 anos, na sua quarta participação olímpica (confirmou as excelentes indicações que deu nos mundiais de Doha em 2019, com a medalha de prata). Esteve na luta pelas medalhas até os últimos km, que foram duríssimos segundo o próprio. Quando Hilbert e Tur se distanciaram, aguentou um pouco atrás em quarto, juntamente com Dunfee, mas o canadiano conseguiu um final impressionante até agarrar a medalha. Vieira conseguiu um brilhante quinto lugar, ele que nunca tinha conseguido acabar nas anteriores participações olímpicas. Um resultado, com diploma olímpico, que sabe seguramente a medalha. Parabéns João !!

20 km (W)

Mais uma surpresa e mais uma medalha de ouro para a Itália (depois do título masculino na véspera)
Antonella Palmisano surpreendeu toda a concorrência, com 25 segundos de vantagem na meta sobre a colombiana Sandra Arenas, outra atleta que não estava no lote das favoritas, em que se esperava um domínio asiático.
A italiana conseguiu distanciar-se a uns km da meta e o avanço foi suficiente para se tornar campeã olímpica.

Um final de prova que acabou por ser dramático para a marchadora brasileira Erica de Sena, que, a 400 metros da meta e com a medalha de bronze no horizonte, recebeu uma punição de 2 minutos por movimento irregular (era o terceiro aviso) e ficou desesperada, ao tentar perceber o que lhe tinha acontecido (acabaria em décimo primeiro). A campeã olímpica chinesa Hong Liu (e detentora do record do mundo) tirou partido da penalidade e acabou por ficar em terceiro.

5000m (M)

Depois das 2 medalhas nos 10000m, o Uganda voltava a ter grandes aspirações com 3 atletas na final.
E o recordista do mundo Joshua Cheptegei confirmou o seu estatuto, e depois da prata nos 10000m, venceu o título, mais forte no sprint final.
A surpresa veio do Canada, com o segundo lugar de Mohammed Ahmed, perto de Cheptegei.
A representar os Estados Unidos, Paul Chelimo (prata no Rio de Janeiro) ficou com o bronze.
O jovem ugandês de 20 anos, Jacob Kiplimo acabou no quinto lugar. Com aquela idade, o já medalhado nos 10000m (bronze) promete.

1500m (W)

Os olhos estavam todos virados para Sifan Hassan, com a sua quinta corrida dos jogos, a procura de uns inéditos 3 títulos. Depois de vencer o seu primeiro título olímpico, nos 5000m, a meia fundista holandesa esperava voltar ao lugar mais alto do pódio.

Ao contrário do habitual, Hassan colocou-se rapidamente na frente do pelotão, tentando controlar as suas adversárias principais, para depois procurar finalizar ao seu estilo. Mas a sua mais forte concorrente na distância, a queniana Faith Kipyegon (actual campeã olímpica) nunca largou a holandesa, e deu um ataque decisivo, que permitiu também a britânica Laura Muir vencer a prata. 

Falhado o objectivo dos 3 títulos, veremos em que condições Sifan Hassan se apresenta amanhã para a final dos 10000m.

4x100m (M)

Uma disciplina que já teve uma grande surpresa nas meias finais, com o inacreditável sexto lugar dos Estados Unidos nas meias finais. Mas houve mais emoção na final.
A Jamaica, no pós-Bolt, e com o record do mundo, tinha aparentemente o caminho aberto. Mas falharam por completo, acabando em quinto (problema de transmissão, erro comum nas estafetas)
O sprint final no último percurso entre a Itália e o Reino Unido foi fantástico. Filippo Tortu, em cima da meta, foi mais forte que Nethaniel Mitchell-Blake, e conseguiu mais um título olímpico para os italianos.
No atletismo, a Itália ganhou 5 medalhas, todas de ouro !!! Depois do salto em altura, 100 metros (Jacobs é duplo campeão olímpico), 20 km marcha masculino e feminino, agora a inesperada estafeta 4x100. Que jogos para a Itália.

Nota final para um dos atletas dos jogos, André de Grasse. O canadiano, bronze nos 100m e ouro nos 200m, fez um último percurso arrasador, passou os atletas da Jamaica e China, e deu mais uma medalha ao Canada. Em grande !
 
Dardo (W)

Uma final que combinava o talento e a beleza, nada desagradável para quem acompanha as provas :)

Favoritismo do lado de Maria Andrejczyk, com uma marca pessoal este ano de 71,40 (foi quarta no Rio, a 2 cm do bronze). Em 2018, a bela polaca foi operada a uma forma de cancro dos ossos (osteosarcoma). Tem passado por muitas lesões, principalmente no ombro e tendão de Aquiles.
No entanto, e como já foi dito anteriormente, a regularidade não dá garantia, basta um lançamento certeiro.
E foi o que aconteceu a chinesa Liu Shiying. 66,34 no primeiro chegou, um mais fraco depois, 2 nulos e não fez os 2 últimos.
Andrejczyk contentou-se com a prata com 64,61, com a campeã do mundo australiana Kelsey-Lee Barber (outra beldade) acabando a 5 cm, vencendo o bronze.

Notas finais : 
A campeã olímpica croata Sara Kolak não chegou a final.
A campeoníssima checa Barbora Spotakova, de 40 anos, participou nos seus quintos jogos olímpicos. Apesar de não ter chegado a final, tem o record do mundo (72,28m), 2 títulos olímpicos (2008 e 2012), com bronze no Rio, e ainda 3 títulos de campeã do mundo. Grande carreira.

400m (W)

A campeã olímpica Shaunae Miller-Uibo era a grande favorita, com a segunda melhor marca do ano (49,08)
Esteve na final dos 200m, que não lhe correu nada bem (última)
Mas a atleta das Bahamas (casada com o decatlonista da Estónia Maicel Uibo) não deu hipóteses, principalmente nos últimos 100 metros. A marca de 48,36 diz tudo.
No fim, disse que estava ansiosa por poder festejar com o Steven (Gardiner), compatriota que venceu a prova masculina no dia anterior.

A surpreendente sprinter dominicana venceu a prata com novo record nacional (49,20). A lenda Félix Sanchez disse que não conseguia dormir na véspera da final e esperava ver de novo a bandeira dominicana em Tokyo. Pode festejar e dormir descansado !!

Allyson Felix, 36 anos (segunda nos trials com 50,02), na sua quinta participação nos jogos, fez história ao conquistar a sua décima medalha (6 de ouro, 3 de prata e hoje a de bronze). Igualou a jamaicana Merlene Ottey na história dos JO e Carl Lewis na história dos Estados Unidos. Amanhã vai participar na estafeta 4x400 e pode ganhar mais uma. Fabulosa !

4x100m (W)

No Rio, as americanas venceram, mas a Jamaica venceu em Doha. Qual seria o desfecho em Tokyo ?

A Jamaica apresentou uma super equipa, com a míuda de 19 anos Briana Williams e as consagradas Elaine Thompson (uma das grandes figuras dos jogos com 3 medalhas de ouro), Shelley-Ann Fraser Pryce e Shericka Jackson. E voaram com uma marca de 41,02 (record nacional)

O quarteto americano venceu a prata com 41,45, e as britânicas ficaram com o bronze (41,88)

Day 8 - o Ultimo dos dias Olímpicos no Atletismo

Maratona (W)

A semelhança das provas da marcha, a maratona disputou-se em Sapporo e mais uma vez o calor e a humidade perturbaram e muito todas as atletas envolvidas.

Favoritismo habitual para as corredoras do Quênia e da Etiópia, juntamente com as do Japão, mais adaptadas ao clima. 
A meio da prova, formou-se um grupo de 10 atletas, entre as quais a detentora do record do mundo Brigid Kosgei (em outubro, venceu a maratona de Londres pela quarta vez) assim como a compatriota Peres Jepchirchir, atleta mais rápida do ano. A passagem do km 35, só restavam 5 atletas, onde a mais surpreendente era a fundista e estreante norte americana Molly Seidel. 

Com menos de 2km para a meta, a decisão das medalhas estava garantida, com as 2 quenianas isoladas, com o ataque final de Jepchirchir decisivo para a conquista do ouro olímpico. Kosgei acabaria pouco depois em segundo, deixando a americana Seidel com uma brilhante medalha de bronze, na sua terceira maratona da sua carreira (na primeira, fez segundo no trials americanos, o que lhe valeu o bilhete para Tokyo) 

A queniana Ruth Chepngetich, campeã do mundo em Doha (com a quarta melhor marca da história) não acabou a prova. A compatriota Jemima Sumgong, campeã olímpica em título, não defendeu o seu título devido a um castigo por doping (EPO) (apanhou 8 anos ...)

Nota final para as nossas atletas. A mais experiente Sara Moreira desistiu a meio da prova (desmaiou e não se lembra de ter colapsado). Sara Ribeiro ficou em 70ª e com muito sacrifício, conseguiu acabar a maratona.
Salomé Rocha, na sua primeira maratona olímpica, foi a melhor atleta lusa, acabando no lugar nº 30. Parabéns para elas por terem representado Portugal nesta disciplina habitualmente dura, e ainda mais pelo clima. Das 88 atletas presentes, 14 desistiram, entres as quais corredoras bem cotadas.

Salto em altura (W)

A favorita a conquista do ouro não deixou os seus créditos por mãos alheias. Mariya Lasitskene, a representar o comité olímpico russo, tinha conseguido 45 vitórias seguidas, entre julho de 2016 e junho de 2018. A tripla campeã do mundo (2015 a 2019) foi a única a conseguir saltar 2,04.

2,02 foi a marca que permitiu a sempre sorridente Nicola McDermott vencer a prata (um record nacional). A simpática  australiana gera a "Everlasting Crowns" que se dedica a encorajar e ensinar atletas.
E foi uma miúda de 19 anos a conseguir o bronze. A ucraniana Yaroslava Mahuchikh (2,06 em indoor este ano e em julho 2,03), venceu com a marca de 2,00 na sua primeira participação.


Dardo (M)

Talvez uma das maiores "barracas" dos jogos. O alemão Johannes Vetter teve muitas dificuldades para chegar a final, o que não era um bom prenúncio. Nos últimos 2 anos foi o único atleta a passar os 90 metros, e em 18 ocasiões. O ano passado fez segunda melhor marca de todos os tempos com 97,76 (o record do mundo de "Deus"  Jan Zelezny é de 98,48). Tem a melhor marca do ano com 96,29 (ficou a 6 cm da medalha no Rio, e venceu o bronze em Doha, a 1,52 do ouro). Mas esta edição dos jogos não era para ele, como demonstra a "melhor" marca alcançada, 82,52 (e mais 2 lançamentos nulos, o que não lhe permitiu fazer os últimos 3) e um muito modesto nono lugar final.

Esta final teve dois momentos extraórdinarios: pela negativa, a performance de Vetter. Pela positiva, e de que maneira, a prova de um atleta que vem de um país que não tem nenhuma tradição na disciplina.
Neeraj Chopra, é o primeiro indiano a ganhar um título olímpico no atletismo (ele que já tinha medalhas de competições na Ásia). Aos 23 anos, o primeiro lançamento do concurso já lhe dava o ouro !! E no segundo, voltou a passar os 87 metros, a que ninguém conseguiu chegar. Venceu a final com a melhor marca de 87,58. Brilhante.

Treinados por Zelezny, a República Checa fez uma dobradinha, com 86,67 para Jakob Vadlejch e 85,44 para Vitezlav Vesely. 

Keshorn Walcott, de Trinidad e Tobago, campeão em Londres 2012 e bronze no Rio 2016 não chegou a final. 
Anderson Peters, de Granada, campeão do mundo em Doha 2019 também não chegou a final.

10000m (W)

Na última prova das 6 corridas do objectivo "louco" de Sifan Hassan, a grande questão era saber se a meia-fundista da Holanda tinha recuperado do terceiro lugar (e do desgaste) na final dos 1500m da véspera.

Pouco depois dos 6km, 5 atletas se destacavam, entre as quais a grande rival de Hassan na distância, Letesenbet Gidey da Etiopia (23 anos, detentora do record do mundo de 5000 e 10000) e a também rival de Hassan nos 5000, a queniana Helen Obiri (prata em Tokyo, atrás da holandesa)
Ainda existia um interesse particular nesta distância : o facto de Hassan ter batido o record do mundo a 6 de junho, 
e de Gidey ter batido o record dois dias depois ! (antiga recordista Almaz Ayana tinha feito 29:17.45, Hassan fez 29:06.82, Gidey fez 29:01.03)

No entanto uma "intrusa" fez parte das atletlas da frente: Kalkidan Gezahegne, a representar o Barhain, não largava o trio-maravilha. O ritmo aumentava, sempre com Gidey a puxar na frente (e com alguma irritação a mistura, fez um gesto para pedir ás rivais ajuda na frente, mas sem efeito..). Com surpresa, Obiri perdeu o contacto com o grupo a passagem dos 7500m. Gidey continuava a liderar, com Hassan e Gezahegne "em cima". E foi nos últimos 100 metros que a holandesa deu o sprint final, sem resposta da etiope, o que permitiu a atleta do Barhain concluir a prova com a prata.

"Sem a "dor" de não ter conseguido a vitória no dia anterior, nunca teria conseguido vencer esta final. Se eu tivesse ganho ontem, acreditem, eu não teria acabado a prova hoje. O meu corpo já estava "morto" ontem. Estava com dores no pescoço, nas últimas 2 voltas estava perto do colapso, e pensei para mim "pensa no dia de ontem"

Talvez o mais incrível no feito de Hassan, para além de ter feito 6 corridas, é de ter apanhado rivais menos desgastadas e de, mesmo assim, ter conseguido 2 medalhas de ouro e uma de bronze. Gidey só fez uma prova (bronze nos 10000m), Kipyegon fez 3 (vencedora dos 1500m), Laura Muir fez 3 (prata nos 1500m) e Obiri fez 3 (prata nos 5000m, quarta nos 10000m)

Mais uma extraordinária demonstração de Sifan Hassan (nascida na Etiópia, mudou-se para a Holanda aos 15 anos como refugiada em 2008. Formou-se como enfermeira e recebeu cidadania holandesa em 2013) 
Aos 28 anos é a segunda atleta a conseguir a dobradinha em 5000m e 10000m em jogos olímpicos (Tirunesh Dibaba da Etiópia foi a primeira). 

1500m (M)

Uma final que prometia muito, até porque tinhamos na final um dos maiores jovens da actualidade (juntamente com o seu compatriota Karsten Warholm, dos 400m barreiras): Jakob Ingebrigsten. 

O prodígio norueguês venceu os 1500m e 5000m nos europeus de 2018 (com 17 anos) e bateu este ano o record europeu (3:28.68, oitavo mais rápido de sempre).

E de facto, o atleta que completa apenas 21 anos no próximo mês, pareceu estar sempre com um grande controlo, um a vontade que dava a ideia que era uma corrida fácil... mesmo com a concorrência.
E foi tão tranquilo, a sua superioridade tão notória, que nem pareceu muito cansado no fim. E deu para bater o record olímpico (3:28.32). Extraordinário.

O queniano Timothy Cheruiyot bem tentou mas no sprint final, não foi possível apanhar Ingebrigsten. Ficou com a prata, com o bronze a ser ganho pelo britânico Josh Kerr (o Reino Unido colocou 3 atletas na final) 

Matthew Centrowitz, dos Estados Unidos, campeã olímpico no Rio, não chegou a final (só Lord Sebastian Coe conseguiu repetir o titulo, 1980 e 1984)

4x400m (W)

Sem surpresas, o fabuloso quarteto americano não deu hipóteses. Vejam bem a equipa de luxo : Sydney McLaughlin (ouro nos 400m barreiras com record do mundo), Allyson Felix (histórica décima primeira medalha olímpica, depois do bronze de ontem nos 400m), Dalilah Muhammad (prata nos 400m barreiras) e Athing Mu (ouro nos 800m com 19 anos). Luxo é dizer pouco !!!

A excelente equipa polaca ganhou a prata a frente da Jamaica. 

4x400m (M)

Finalmente uma alegria, com a medalha de ouro para os sprinters americanos (com uns jogos bem abaixo das suas pretensões)
Michael Cherry, Michael Norman, Bryce Deadmon e Rai Benjamin (ó único a conseguir uma medalha, nos 400m barreiras)

Mas as surpresas vieram dos outros medalhados: prata para o quarteto holandês e bronze para a equipa do Botswana.
Os candidatos ao pódio Bélgica, Polónia e principalmente Jamaica, foram surpreendidos.

Hoje ainda teremos a Maratona (M) que será acrescentada aqui amanhã.

Continua...
Texto do enviado especial (em casa), Franck Carreira