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Mundiais de Atletismo - Prova a prova - Oregon 22

Mundiais de Atletismo - Prova a prova - Oregon 22

Julho 21, 2022 / 533

Mundiais de Atletismo - Prova a prova - Oregon 22

Caros atletas e fãs de atletismo  
Começaram na passada sexta-feira 15 de julho os mundiais de atletismo, pela primeira vez nos Estados Unidos, na cidade de Eugene (Oregon).  
Num complexo universitário ultra-moderno, Hayward Field tem cerca de 100 anos de história desde a sua construção, e tornou-se na pista e campo dos Estados Unidos com mais história. Quase completamente remodelado entre 2018 e 2020, é um dos cinco estádios americanos que tem a classificação “Classe 1” pela World Athetics.  

Dia 1 (15/07)
 

20 km marcha (M)
 
Primeira final dos mundiais, primeira surpresa. Sob um calor abrasador (vá-se lá saber porque a prova começou por volta das 15h locais, com uma temperatura a rondar os 30 graus, o que “obrigou” as atletas a muitas “passagens” pelo reabastecimento). 
O favoritismo caia claramente do lado da “armada” chinesa, como é habitual, com a camponíssima Shijie Qieyang na linha da frente. A campeã olímpica em Londres 2012 e multi-medalhada colocou-se rapidamente na frente, e depois de alguns quilómetros, só a atleta peruana Kimberly Garcia-Leon acompanhou o ritmo. Tudo levava a crer que a atleta mais cotada levaria a melhor mas a marchadora peruana não desarmava e por volta do km 14 começou a distanciar da chinesa. Parecia que não iria chegar mas a verdade é que, aos poucos, e sempre com o mesmo ritmo, Garcia Leon distanciou-se de vez até a meta. 
Trata-se da primeira medalha de sempre do atletismo peruano, e logo uma medalha de campeã do mundo (“Kimy” tinha sido a primeira peruana a conseguir um apuramento para uns jogos olímpicos, o de Toquio do ano passado, em que não chegou ao fim, referindo depois que achava que estava preparada para o evento mas admitiu que nao). Nas ultimas semanas, teve uma preparação rigorosa, marchando diariamente cerca de 20/30 km de manha e mais 5/6 km de tarde (de “recuperação”). Ao falar sobre as condições climatéricas da prova, referiu que eram perfeitas. 
Por fim, Qieyang ainda quebrou a 3 km da meta, permitindo a recuperação da polaca Katarzyna ZdZieblo, que venceria a prata.   
Do lado português, excelente prestação de Ana Cabecinha, com um valioso nono lugar, com a excelente marca de 1:30:29, a sua melhor marca do ano. Carolina Costa acabou em vigésimo quinto e a veterana Inês Henriques em trigésimo segundo, no que foi estrategicamente um “aquecimento” para a prova mais longa da próxima sexta-feira, os 35 km. Esperemos que resulta.    

20 km marcha (M)  
Sem grandes surpresas perante o habitual domínio nos últimos anos, o Japão conseguiu a dobradinha, ouro e prata. No entanto, foi uma prova muito disputada até ao fim: só nos últimos 2 km é que os nipónicos conseguiram ganhar um ligeiro avanço, que viria a ser decisivo. Toshikazu Yamanishi repetiu o titulo mundial de Doha 2019 (e ainda com a prata conquistada em Toquio “2020”). Bastou um pequeno avanço de 7 segundos sobre o compatriota Koki Ikeda (prata em Toquio) para garantir o titulo. Regularidade absoluta para o alteta sueco Perseus Karlstrom (de família de marchadores, com o pai e o irmão) que voltou a conquistar o bronze, tal como em Doha 2019.   

4x400 misto
 
Felizmente parece ter havido bom senso na reorganização da estafeta mista, depois da confusão na estreia nos jogos de Toquio. Não fazia sentido haver, numa determinada volta, homens e mulheres. Agora, cada volta tem só atletas masculinas ou só femininas. 
Sendo assim, e com uma muito mais justa redistribuição dos corredores, a favorita equipa americana teve de se contentar com o bronze, de uma forma tragica: com tudo para vencer o ouro perante o seu público, Elija Godwin, com um avanço significativo, quebrou a 100 metros da meta e foi ultrapassada. 
Uma luta titânica até a meta viu a equipa dominicana ganhar o ouro, com uma unha negra de avanço sobre a selecçao holandesa.    

Dia 2 (16/07)
 

Martelo (M)
   
Uma excelente final (os cinco primeiros acima dos 80 metros) viu de novo a consagração do polaco Pavel Fajdek (81,98), com o seu impressionante quinto titulo mundial consecutivo (desde 2013 até 2022) Tem uma incrível colecção de medalhas na sua brilhante carreira mas curiosamente, nunca foi campeão olímpico. 
A Polonia fez a dobradinha, com Nowicki a vencer o bronze (81,03). O noruegues Henriksen completou o pódio (80,87).    

10000 m (F)   
Obviamente que o mundo estava novamente a espera de mais uma brilhante prova da supercampeã holandesa Sifan Hassan, mas desta vez, a concorrência habitual superou-a. 
As incontornáveis candidatas lutaram até a meta, no sprint final mais disputado dos últimos anos, pouco convencional na distancia. 
Emocionante, como esperamos sempre que sejam todas as provas ! Gidey (30’09’94) ganhou por muito pouco a Obiri (30’10’02) e Kipkemboi (30’10’07), deixando Hassan no quarto lugar (30’10’56). Épico !!     

Salto em comprimento (M)
  
Até agora, o primeiro “golpe de teatro” dos mundiais. Favoritismo absoluto do lado do campeão europeu, olímpico e mundial de pista coberta (este ultimo com uns impressionantes 8.60), Miltiadis Tentoglou.
Num concurso muito regular (tirando o salto nulo inicial), ninguém parecia poder fazer frente ao super atleta grego. 
Mas o desporto é fértil em surpresas, e no último salto, o chinês Jianan Wang virou a final de pernas para o ar, fez 8.36 e passou para a frente por 4 centímetros, perante o espanto de todos e do próprio atleta helénico, que não pareceu ter encarado bem a situação…   
A jovem promessa suiça Simon Ehammer venceu o bronze (8.15). Nos festejos, Wang e Ehammer fizeram a habitual foto dos medalhados, com a bandeira respectiva, sem Tentoglou, que um pouco a frente, tirou a medalha do pescoço, com uma cara de poucos amigos…     

Peso (F)
  
A nossa atleta Auriol Dongmo (nascida nos Camarões e naturalizada em 2019) era apontada como uma das favoritas, depois do recente titulo mundial de pista coberta, em Março passado, em Belgrado. No entanto, a concorrência era feroz e rapidamente o titulo se decidiu entre a americana Chase Ealey e a chinesa Lijao Gong. O primeiro lançamento da norte americana viria a ser decisivo (20.49) e as posições do pódio inverteram-se relativamente aos jogos de Toquio do ano passado. Sarah Mitton, do Canada, “cheirou” a medalha no ultimo lançamento mas fez a mesma marca do que Jessica Schilder (19.77), prevalecendo o concurso mais regular da holandesa.   
O melhor que Dongmo consegui foi um honroso quinto lugar (19.62)  

100 m (M)
  
A prova rainha do atletismo é sempre a final mais seguida, pela historia dos 100 m nas provas internacionais, e passou a ter um interesse ainda superior com a entusiasmante era Bolt. Nesta prova, os americanos representavam metade dos finalistas, e muito cotados. O favoritismo estava todo do lado de Fred Kersey, pelo que tinha estado a fazer esta época, e mais recentemente nos campeonatos americanos (com 9’76 nas meias e 9’77 na final !). 
Mas ao contrario da primeira serie e da meia final, Kersey teve que se superar até a meta para conseguir vencer o titulo (9’86) a frente de Bracy e Bromell, com o mesmo tempo (9’88). Christian Coleman ficou em sexto  (10’01).  
Bromell estava muito emocionado com a conquista do bronze (ele que não passou das meias finais em Toquio), em claro contraste com Kerley, que em nenhum momento após a conquista do titulo, se viu a esboçar um sorriso. Sorri rapaz, és campeão do mundo e em casa !!!    

Dia 3 (17/07)
 

Maratona (M)
  
Infelizmente, sem a presença do imparável queniano Eliud Kipchoge, o favoritismo recaia do lado do fundista da Etiópia Tamirat Tola, e ele se deu bem com esta pressão. Já medalhado mas nos 10000 m nos jogos do Rio 2016 (bronze), conquistou a prata na maratona nos mundiais de Londres 2017. Completou a colecção de medalhas com a mais importante de todas : a medalha de ouro e com uma marca que é o novo record em mundiais (2’05’36). 
Muito pouco comum na maratona, ainda havia um grupo muito numeroso aos 30 km. Depois, entre os km 33 e 34, Tola começou a distanciar-se e só alguns conseguiram manter-se por perto. Com a passada muito constante de Tola, faltava saber quem iria conquistar as outras 2 medalhas. Aos 40 km, Geremew (Etiópia) e Abdi (Bélgica) ganharam alguns segundos de avanço e a diferença na meta fez-se por 4 segundos, com o primeiro a prevalecer (e repetindo a prata de Doha 2019), conseguindo assim a dobradinha para a Etiopia.  
Abdi (nascido na Somália, com mudanças para Djibouti e Etiopia na sua juventude, chegou a Belgica aos 16 anos; é co fundador da Sportaround, organização não lucrativa de actividades desportivas pós escolar para crianças, em Gent) repetiu o bronze dos jogos de Tóquio.    

Martelo (F)
  
Até agora, uma das mais interessantes finais dos mundiais. As medalhas foram distribuídas pelo continente norte-americano: as atletas da casa Brooke Andersen (ouro) e Janee Kassanavoid (bronze) e pelo meio Camryn Rogers, do Canada (prata). 
Andersen fez uma prova muito regular, passando para a frente com cerca de 75m e meio, e depois com 2 lançamentos acima dos 77m e meio, cimentando a liderança. Muito luta por parte das atletas que viriam a conquistar as medalhas, mas Andersen estava claramente noutro patamar.  
Uma curiosidade: muito pouco comum algum atleta, depois de saber que o titulo está ganho, conseguir manter a concentração e tentar fazer uma marca ainda melhor. Mas Andersen, mesmo com o público a vibrar e com a adrenalina no máximo, fez perto de 79 m (78,96) no ultimo lançamento !! Brilhante !! Se houvesse dúvidas… A supercampeã polaca Anita Wlodarczyk (quatro títulos mundiais e três títulos olímpicos) não esteve presente por lesão, tal como a actual campeã do mundo Deanna Price, devido ao Covid 19.    

10000 m (M)
 
Meus caros, que final!! E a uma hora estranha para a distancia (uma da tarde nos Estados Unidos, quando normalmente é uma prova de final de dia), foi vibrante, com o público muito efusivo a apoiar todos os atletas. 
E com uma lista dos melhores atletas do meio fundo da actualidade. Tal como na final feminina, um grupo numeroso manteve-se junto até 3 voltas do fim, nada habitual nos 10000 m. 
Um dos grandes favoritos, o fantástico Joshua Cheptegei, do Uganda, demonstrou que está em grande forma, com uma ajuda preciosa do seu compatriota e detentor do record do mundo da meia maratona, Jacob Kiplimo. A maior ameaça para o titulo era o também excelente Selemon Barega, da Etiópia. Fora dos atletas africanos, o trio da casa portou-se muito bem, tal com alguns europeus. Vemos muitas vezes na distancia o pelotão “partir” a cerca de meio da prova, ou pouco depois, mas não aconteceu, apesar de algumas mudanças de velocidade dos da frente. Quando começou a chegar a hora das decisões, Cheptegei passou para a frente e começou a aumentar o ritmo, mas os principais concorrentes continuavam no seu encalce. E ao entrar para a última curva, com Barega a tentar ter o melhor final, o Ugandês manteve-se firme até o fim, e foi o próprio Barega a quebrar, deixando a prata para o queniano Mburu (que tropeçou 2 vezes por causa de alguns inevitáveis encontroes e teve o mérito de se manter focado até ao fim) e o bronze para o já referido Kiplimo. 
Grande prova do jovem norte americano de 25 anos, Grant Fisher (nascido no Canada e formado na famosa universidade de Stanford): nunca nenhum atleta dos estados unidos ganhou uma medalha nos 10000 m e não esteve longe, passando vários atletas africanos, entre os quais Barega. E já tinha dado nas vistas nos jogos de Toquio, com um excelente quinto lugar.   

Salto a vara (F) 
Prova com o favoritismo habitual nas ultimas grandes competições da dupla norte-americana Sandi Morris (campeã do mundo em Doha 2019) e Katie Nageotte (actual campeã olímpica) Favoritismo confirmado, com a jovem australiana Nina Kennedy a intrometer-se na luta pelas medalhas. Aproveitou a ausência da russa Sidorova e ganhou o bronze com um excelente salto final de 4,80. Morris e Nageotte acabaram com mesma marca de 4,85 mas a campeã olímpica passou á primeira e juntou o titulo mundial ao olímpico.  

Peso (M)  
Difícil era repetir a épica final de Doha 2019 com os medalhados separados apenas por um centímetro, mas foi de novo uma final fantástica. Ryan Crouser, depois da surpresa de Belgrado em março em que foi batido pelo brasileiro Romani, queria a desforra e voltar ao lugar mais alto do pódio, mas não foi nada fácil. O seu compatriota Joe Kovacs não lhe deu tréguas e fez sobressair o melhor dele, numa final de paradas e respostas ao mais alto nível. Quando Kovacs deu uma nova resposta com 22,89, logo a seguir Crouser chegou aos 22,94 (record dos mundiais). Faltava o titulo mundial ao seu já impressionante currículo e chegou em casa (detentor do record do mundo com 23,37 e duplo campeão olímpico) Os Estados Unidos conseguiram o triplete com o jovem Josh Awotunde, de origem nigeriana, a chegar ao bronze com 22,29.

110 m barreiras (M) 
Os favoritos chegaram a final sem surpresas, mas houve dois acontecimentos que acabaram por facilitar a vitoria do norte americano Grant Holloway: Parchment lesionou-se numa barreira, num pré-aquecimento pouco antes da final, de uma forma caricata.
Sem o jamaicano, que foi uma das grandes surpresas dos jogos de Tóquio, Holloway ainda se encontrava mais confortável. Mas o jovem compatriota Devon Allen fez uma falsa partida (hoje em dia é muito frustrante uma falsa partida “electrónica” em que não se vislumbre nenhum erro a olho nú), e a final iniciou-se com provavelmente os dois mais sérios oponentes de Holloway de fora. 
Assim é que se fez a historia desta final.  

100 m (F)  
Das 3 habituais jamaicanas, a favorita principal era Ellen Thompson, depois do “terramoto” que provocou em Tóquio. Só que desta vez, Shelley-Ann Fraser Pryce voltou ao lugar mais alto do pódio (10,67 record dos mundiais), de uma forma inequívoca. Shericka Jackson (10,73) ficou com a prata, mais forte do que Thompson (10,81) na final. Triplete esperado por parte da Jamaica.  
Heptatlon (F)   Foi o inicio das provas do Heptatlon. Iremos abordar o assunto no dia da conclusão do concurso. 

Dia 4 (18/07)    

Maratona (F)
 
Depois de um uma primeira metade de prova regular e com um grupo ainda numeroso, a partir dos 25 km, quatros atletas se destacaram : Angela Tanui e Judith Korir do Quenia, e Gotytom Gebreselase e Ababel Yeshaneh da Etiopia, países concorrentes habituais no fundo e meio fundo. Pouco depois, Korir mudou de velocidade, Tanui ficou para trás e pouco depois aconteceu o mesmo com Yeshaneh. Só Gebreselase conseguiu acompanhar o ritmo de Tanui. 
Por volta do km 32, Yeshaneh não aguentou o desconforto de uma aparente dor abdominal e desistiu. A decisão do titulo passou a ser disputada a 2, e por volta do km 40, Gebreselase aumentou o ritmo e fugiu para conquistar o titulo. Impressionante até porque venceu em Berlin em 2021, na sua estreia na maratona, e ainda conquistou o bronze nos jogos de Toquio. E isto tudo com apenas 27 anos. Fantástico
Numa belíssima recuperação, a atleta de Israel Lonah Salpeter (de origem queniana) venceu o bronze, dando a sua primeira medalha de sempre na maratona ao seu pais. Em Israel desde 2008, conheceu o seu actual marido e treinador Dan Salpeter; é cidadã de Israel desde 2016.    

Salto em altura (M)
 
Depois do fabuloso duplo-titulo olímpico acordado entre os amigos Barshim e Tamberi, esperava-se uma final ao mais alto nível de novo. Barshim esteve irrepreensível na qualificação, contrastando com a prova de Tamberi, que acabou por passar a tangente duas vezes, nas marcas de 2,25 e 2,28. No entanto, capacidade de superação e crer são imagens de marca do italiano. E tivemos também um impressionante sul coreano Sanghyeok Woo, em grande destaque, como tinha demonstrado nos mundiais de pista coberta em Março, com o titulo conquistado (sem a presença de Barshim) 
Com pouca competição esta época, a verdade é que o segundo melhor saltador da historia não deu quaisquer hipóteses a concorrência. Numa final perfeita, o catari não falhou um único salto !! Parou na marca dos 2,37 m com mais um titulo de campeão do mundo no bolso. Que demonstração!  
Woo ficou em segundo (2,35 m), seguindo do veterano atleta ucraniano Protsenko (2,33).
E Tamberi, porque vale sempre a pena falar dele, esteve muito perto da medalha, com a mesma marca que o ucraniano. Transfigurado para a final, o simpático italiano passou tudo até 2,27, com mais uma vez um crer enorme, passou 2,30 no ultimo salto, e ainda passou 2,33 na segunda tentativa. Tambem vale a pena falar dos atletas mesmo quando acabam sem medalhas. Grande final!  

Triplo Salto (F)
  
A grande questão para a final era : haverá alguém capaz de conseguir incomodar uma das melhores atletas da actualidade e provavelmente a melhor atleta de sempre do triplo salto ? A venezuelana Yulimar Rojas parece de facto intocável (um metro de avanço sobre a segunda em Belgrado e novo record do mundo de pista coberta, lembram-se?) O que parece sempre mais certo é existir dúvidas sobre os lugares ocupados do segundo lugar para baixo. 
E esperamos sempre ver por lá a nossa Patricia Mamona num bom lugar. E bastou o segundo salto para Rojas vencer mais um titulo, com uns impressionantes 15,47 !! Com apenas 26 anos, a carismática sul-americana tem um currículo fantástico : tripla campeã do mundo ao ar livre, tripla campeã do mundo de pista coberta e actual campeã olímpica. É ainda detentora do record do mundo ao ar livre (15,67) e de pista coberta (15,74). Uma curiosidade : em 2016 nos jogos do Rio, com ainda 20 anos, venceu a prata com 14,98, somente batida pela colombiana Caterine Ibarguen (15,17). Desde então, nunca mais perdeu…
Belíssimo concurso da jamaicana Shanieka Ricketts, com a sua melhor marca da temporada, na altura certa (14,89). Bronze para a norte-americana Tori Franklin (14,72) que acabou por deixar a jovem cubana Hernandez a 2 centimetros (14,70) 
Patricia Mamona não esteve nos seus dias, com um modesto oitavo lugar (14,29). Mas voltou a marcar presença numa final internacional, o que é sempre de realçar.    

3000 m obstáculos (M)
  
Soufiane El Bakkali chegou aos Estados Unidos com claras intenções de voltar a chegar ao lugar mais alto do pódio, depois do titulo olímpico de Tóquio. O atleta marroquino tinha forte concorrência dos corredores quenianos e etiopes, entre outros. Mas a sua capacidade finalizadora foi tremenda, mesmo parecendo estar difícil alcançar o primeiro lugar, nos últimos 200 metros. Lamecha Girma e Conseslus Kipruto bem tentaram impedir o multi-medalhado campeão de apenas 26 anos de chegar ao ouro, mas em vão. 
Girma tem coleccionado medalhas de prata mas só tem ainda 21 anos. Promete.  

1500 m (F)
 
E como se esperava, a fabulosa Faith Kipyegon confirmou toda a sua (enorme) categoria. Com um inicio de prova pouco comum, 4 atletas (Kipyegon, Muir, Tsegay e Hailu) se destacaram de imediata, criando um fosso irrecuperável !! Hailu, jovem etíope de 21 anos, foi a primeira a ficar para trás. As medalhas estavam decididas, faltava saber a ordem, com provavelmente as 3 melhores finalizadoras da actualidade. Com uma frenética ultima volta, e sempre com Muir e Tsegay no seu encalce, em nenhum momento Kipyegon pareceu desconfortável, e nunca deixou nenhuma das suas opositoras passar para a frente. Demolidora. 
Segundo titulo de campeã do mundo (o “pior” que fez em mundiais foram 2 segundos lugares..), a juntar aos últimos 2 títulos olímpicos. 
Foi mãe em 2018, voltou a treinar 18 meses depois e na sua primeira prova desde o nascimento da filha, venceu a liga diamante de Palo Alto (USA). Por alguma razão é considerada a melhor atleta de sempre em 1500m.  

Heptatlon
  
As ultimas competições acabaram hoje, e pela primeira vez na historia da modalidade, o titulo foi decidido na ultima prova, os 800 m. A holandesa Anouk Vetter levava vantagem sobra a dupla campeã olímpica Nafissatou Thiam (27 anos), mas uma corrida muita mais competente voltou a coroar a atleta belga, que assim venceu o seu segundo titulo mundial. 
Thiam já se tinha tornada em Tóquio a segunda atleta da historia do heptatlo a vencer duas olimpíadas consecutivas, juntamente com a mítica Jackie Joyner-Kersee. Excelente prova da norte-americana Anna Hall, que venceu a sofrível ultima prova, e venceu assim o bronze, passando a frente da atleta polaca Adrianna Sulek. A britânica Katarina Johnson-Thompson, detentora do titulo mundial, ficou em oitava na classificação final, depois de uma grave lesão no ano passado nos jogos de Tóquio. Foi bom voltar a vê-la numa grande competição internacional.    

Dia 5 (19/07)
   

Salto em altura (F)
  Sem a presença da fabulosa campeã russa Mariya Lasitskene, pelas razoes mais do que conhecidas em relação aos atletas russos, quem iria suceder a tripla-campeã do mundo (consecutivas)?? 
Depois de uma qualificação irrepreensível, a muito jovem (20 anos) sensação ucraniana Yaroslava Mahuchikh era a grande favorita. Incrível currículo para uma atleta tão nova, com prata em Doha 2019 (com 17 anos..), bronze nos jogos de Tóquio e campeã mundial em pista coberta este ano. Parecia intocável, mas outras atletas subiram de nível na hora da decisão.  
8 saltadoras chegaram a marca de 1,96 o que diz muito da qualidade da final. A bela ucraniana passou tudo até 1,98 mas a “quase veterana” italiana Elena Vallortigara (30 anos) fez melhor, com uma prova imaculada até os 2 metros. Obrigou Mahuchikh a puxar dos galões, ao chegar aos 2,02. Mas a surpresa acabou por vir de longe, com a (bela) australiana Eleanor Patterson, que depois de passar na última tentativa a 1,98, soltou-se. Passou 2,00 á segunda e 2,02 á primeira, o que acabou por lhe valer o titulo mundial, aos 26 anos. Uma festa efusiva que começou na sua compatriota e também finalista Nicola Olyslagers (Mc Dermott antes de casar, medalha de prata nos jogos de Tóquio)   

Disco (M)
  Outra grande final, em que o principal favorito não confirmou o seu estatuto. Daniel Stahl esteve muito bem na qualificação, mas o nível da final acabou por deixar o sueco em quarto lugar. Mas um dos seus  principais concorrentes esteve ao mais alto nível. 
O esloveno Kristjan Czeh tomou conta das operações no terceiro lançamento, acima dos 70 metros (71,13) e voltou a passar os 70 m no quinto ensaio (70,51). Foi demais para os outros finalistas. O esloveno falhou a presença na final de Doha 2019, na altura ainda só com 20 anos. Passado 3 anos, já é campeão do mundo.  
Estamos a falar de um atleta que tem o sonho de ser agricultor, e especialmente criador de galinhas. Tem uma quinta e está a estudar a especialidade na universidade de Maribor. Mas primeiro, venham as medalhas ! Mas atenção ao jovem prodígio Mykolas Alekna (filho de antigo atleta) :só tem 19 anos, e fez um lançamento incrível de 69,27 e venceu a prata. Tem sem dúvida uma enorme margem de progressão e poderá vir a ser o grande dominador na próxima década. 
Foi um dia em grande para a Lituania porque o seu colega Andrius Gudzius venceu o bronze (67,55).  

1500 m (M)
   
Todos os olhos postos no norueguês Jakob Ingebrigtsen, inevitável favorito a conquista de mais um titulo. 
O que poderia por em causa o seu domínio são os atletas africanos do calibre de Cheruiyot e Kipsang (Quenia) ou Lemi (Etiópia). Ainda assim, o britânico Josh Kerr foi uma agradável surpresa nas qualificações e podia surpreender. Foi uma corrida muito rápida, com o norueguês imediatamente a tomar conta da corrida, com a “armada” africana no seu encalce. Um ritmo muito forte da jovem sensação de 21 anos, pouco habitual, ele que costuma fazer uma corrida de trás para a frente. Mas nada fazia prever o que viria a acontecer. Na entrada para a última curva, outro britânico, Jake Wightman (filho de um antigo maratonista e actual treinador) passou para a frente, ficou a sensação que Ingebrigtsen ia conseguir responder, mas o escocês manteve-se com firmeza até a meta. A sua expressão facial deu a entender que nem estava a acreditar no que tinha acabado de alcançar. Grande surpresa! Mohammed Katir de Espanha venceu o bronze mas ele empurrou um atleta queniano na última curva, o que me pareceu claramente irregular, mas aparentemente, manteve a medalha de bronze. Ao ser desqualificado, a medalha ficaria em Espanha.. (Mario Garcia “ficou” em quarto)  

400 m barreiras (M)
  
Tal como o seu compatriota Ingebrigtsen, o detentor do record do mundo Karsten Warholm estava claramente na linha da frente para o titulo mundial. Nos jogos de Tóquio, o excelente norte americano Rai Benjamin nada pode fazer perante a competência do norueguês. 
No tiro de partida, Warholm saiu que nem um foguete, mas quando chegou na entrada para a última recta, Benjamin estava em cima, e o que se viu depois é quase inacreditável: sem aparentar nenhum problema físico, o norueguês simplesmente ficou sem gás ! Acabou em penúltimo.. Benjamin tinha o caminho aberto para o titulo ? Não, porque o brasileiro Alison dos Santos esteve imparável até a meta e ganhou (46,29 – record dos mundiais) com um avanço significativo sobre o norte-americano (46,89). Incrível! 
Lembram-se do atleta com o couro cabeludo queimado por causa de um acidente domestico na infância ? Foi ele mesmo que ganhou o bronze em Tóquio. Grande dia para o Brasil ! Apesar de não conseguir o titulo, foi fantástica a reacção de Benjamin quando se apercebeu que o compatriota Trevor Bassitt tinha conseguido, no limite, vencer o bronze (47,39). Bonito. O francês Wilfried Happio (47,41) cheirou a medalha até ao fim mas não conseguiu. Um atleta que foi protagonista de um incidente no mês passado nos campeonatos de França:  20 minutos antes da prova, um individuo passou os seguranças e agrediu o atleta que estava no aquecimento (não se sabe o motivo). O agressor foi preso pouco depois e Happio avançou na mesma para final, com o olho vendado. Venceu o titulo francês com o sua melhor marca (48,57) o que lhe garantiu o apuramento para os mundiais. Merecia uma medalha em Eugene.

Dia 6 (20/07) 

Disco (F)
 
Pelo que se tem visto nos últimos tempos, o titulo mundial seria discutido entre a norte-americana Valarie Allman e a croata Sandra Perkovic. Allman, campeã olímpica em Tóquio e vencedora da liga diamante esta época, apanhou um susto na qualificação, com os primeiros lançamentos nulos, mas no último, fez a melhor marca mundial do ano, acima dos 68 m ! 
E a final não podia ter começado melhor: 68,30 para a elegantíssima ex-dançarina, mas com resposta imediata de Perkovic, com 15 centimetros acima (68,45). Estava visto que dificilmente alguém ia chegar a este patamar. Mas como tem havido muitas surpresas nestes mundiais… chegou mais uma ! 
Bin Feng, da China, no seu primeiro lançamento, e perante o espanto de tudo e todos, inclusive da própria, alcançou uns espantosos 69,12 ! Ou seja, mais de 3 metros acima do seu record pessoal. Arrumou toda a concorrência e ninguém conseguiu fazer melhor. Brilhante prova para a barreirense Liliana Cá. A veterana de 35 anos (que teve um hiato de 5 anos entre 2013 e 2015 para criar os filhos) foi repescada nas qualificações e conseguiu um meritório sexto lugar final, com a sua melhor marca do ano (63,99).   
O que quer dizer que a nossa atleta é a sexta melhor do mundo !  

3000 m  (F)
 
A lider mundial confirmou todo o seu estatuto com uma corrida praticamente perfeita. Norah Jeruto, do Cazaquistão, liderou do principio ao fim. Ao fim de um quilometro, só 4 atletas estavam destacadas, ao impor um ritmo forte, com o pelotão completamente partido. Nem a cotada norte-americana Courtney Frerichs (medalhada nos jogos de Tóquio) conseguiu seguir no grupo. A dupla da Etiópia Getachew e Abebe assim como Winfred Yavi do Bahrein seguiam com a futura vencedora. Abebe perdeu depois o contacto e parecia que as medalhas estavam entregues. Mas uma grande recuperação da etíope e uma inesperada queda de Yavi no último fosso de água fez toda a diferença. Jeruto celebrou a vitória de uma forma efusiva deitada na pista. Em Maio venceu no mesmo complexo, na Prefontaine Classic, e estabeleceu na altura a terceira melhor marca de sempre  (8’57’98). 
Venceu agora o titulo com novo record dos mundiais (8’53’02). Não esteve presente nos jogos de Tóquio por estar a espera da naturalização, que chegou em Janeiro deste ano.  

Dia 7 (21/07)    

200 m (F)
 
Outra vez uma final em que se esperava mais um triplete da Jamaica, tal como aconteceu na final dos 100 metros. Só que, desta vez, os papeis inverteram-se: Shericka Jackson, em grande forma e em grande estilo, venceu o seu primeiro titulo mundial individual, com uma marca expressiva de 21’45. Ela que, apesar de toda a sua categoria, pareceu sempre andar na sombra das suas duas habituais compatriotas. 
Hoje foi um prémio mais do que merecido para uma atleta que começou a sua carreira nos 400 metros (com varias medalhas em mundiais e jogos olímpicos) e que só mudou para os 100/200 o ano passado. 
Shelley-Ann Fraser-Pryce, que obviamente dispensa apresentações, ficou em segundo lugar (21’81) e estava radiante de ver a sua amiga vencer o ouro. 
Ellen Thompson, terceira nos 100 metros, confirmou que está longe das suas brilhantes prestações dos jogos de Tóquio, com o sétimo lugar. Sendo assim, e confirmando o seu bom momento, a britânica Dina Asher-Smith venceu o bronze (22’02) com todo o mérito. Campeã do mundo nos 200 m em Doha 2019, é a atleta mais rápida da historia do Reino Unido.  

200 m (M)
  
Uma grande surpresa aconteceu numa das meias finais, na véspera : o sprinter Fred Kerley, que conquistou o titulo dos 100 m uns dias atrás, foi completamente batido pela concorrência acabando em sexto (só não fez eventualmente pior porque Johan Blake não esteve presente na partida..). Inacreditável. 
Parecia que a cabeça não estava “lá” (nem sei se a palavra displicente é a palavra certa mas que foi estranho, foi) Esperava-se, tal como nos 100 metros, um novo domínio americano e assim foi. Noah Lyles, claramente favorito e detentor do título, tinha de se precaver com a valia do prodígio e ainda júnior Erriyon Knighton (leader com uns extraordinários 19,49 esta época..), tal como Kenny Bednarek, prata em Tóquio. 
E Lyles sabia perfeitamente que surpresas acontecem, como nos jogos olímpicos, em que se ficou pelo bronze (o canadiano André de Grasse foi o campeão olímpico mas não marcou presença nas qualificações dos 200 metros) Mas Lyles foi mais do que competente : foi fabuloso, alucinante. Voou para o titulo com uma marca do outro mundo (19,31). Não deu quaisquer hipóteses. Quando olhamos para o intocável record do mundo de Bolt (19,19), parece impossível o que Noah Lyles fez. Mas fez. E se mantiver o nível, mais o que Knighton tem sido capaz de produzir com a idade que tem, o futuro dos 200 metros promete (Bednarek fez 19,77 e o miúdo de 18 anos 19,80). Mas é sempre difícil conseguir manter o mesmo nível anos a fio. Mas que foi maravilhoso, foi. Ao ponto de Lyles rasgar a camisola !! isto sim, é demonstrar entusiasmo ao vencer um titulo ! E o comentário do bicampeão mundial é sintomático : “disse ao Erriyon e Kenny… fiquei aliviado vocês terem ficado para trás porque vocês puseram o “medo de Deus” no meu arranque”. E ele sabia que ao sair da curva na frente que podia vencer, se não sentisse ninguém em cima. E ainda a cereja no topo do bolo : bateu o velhíssimo record nacional de Michael Johnson (19,32)  

Dia 8 (22/07)  

35 km marcha (F)
 
Quem podia prever o que iria acontecer nessa nova distância (a substituir os 50 km) ?? Eu diria ninguém, porque não me lembro de um pódio nos 20 km há uma semana atrás, ser repetido na distância maior. Mas foi o que aconteceu, e a atleta peruana Kimberly Garcia-Leon fez a dobradinha, depois do primeiro titulo de sempre no atletismo para o Perú. Brilhante. E uma prova muito parecida com a dos 20 km. A polaca Katarzyna ZdZieblo voltou a conquistar a prata, e a chinesa Shijie Qieyang ficou com nova medalha de bronze. Do lado lusitano, Inês Henriques (42 anos, campeã do mundo dos 50 km em 2017) fez um meritório 13º lugar. Do lado das outras compatriotas, duas estreias : a bracarense Vitória Oliveira (29 anos) ficou em 19º. Sandra Silva, com 46 anos (campeã mundial dos 20 km no escalão de mais de 40 anos em 2018, em Málaga, e campeã europeia dos 10 km no mesmo escalão em 2020, no Funchal) ficou em 35º. Ficou surpreendida por poder finalmente entrar num campeonato do mundo, devido ao seu bom ranking e acabou por cumprir um sonho. Parabéns !

Dardo (F)
 
Uma final que deu várias cambalhotas na última ronda de ensaios, o que colocou a classificação final de pernas para o ar ! Sem grandes sobressaltos, a detentora do título Kelsey-Ann Barber tomou conta das operações de forma definitiva no terceiro lançamento, com um “tiro” muito perto dos 67 metros (66,91). A bela australiana tinha estado em segundo com dois lançamentos perto dos 63 metros, onde estava a compatriota Mackenzie Little (63,22). A campeã olímpica Shiying Liu passou então para segundo por 3 centímetros (63,25) e pelo andar do concurso, tudo parecia decidido. Mas não, porque a última ronda foi incrível. A norte-americana Kara Winger passou para do quinto para o segundo lugar do pódio (64,05) e a japonesa agarrou o bronze logo a seguir (63,27). Houve uma diferença de apenas 5 centímetros do terceiro para o quinto lugar. Num momento de grande desportivismo e de evidente felicidade pela medalha arrancada a ferros, Kara Winger, ao tirar foto ao lado da agora bi-campeã mundial, gritava e apontava “defending champion !!”. Uma curiosidade para a finalista da Letónia Lina Müze, que chegou a fazer capa da playboy local (mas vestida...)

400 m (M)  
Muito equilíbrio em perspectiva para a final dos 400 m. Mas o dia foi do atleta da casa Michael Norman (treinado pelo ex-campeão olímpico de 1992 Quincy Watts), com uma belíssima marca (44,29). Um dado interessante : Norman é um de somente três corredores abaixo dos 10 segundos nos 100 m, dos 20 segundos nos 200 m e dos 44 segundos nos 400 m (!!!) juntamente com Fred Kerley e Wayde Van Niekerk.  Impressionante é também continuar a ver Kirani James (Granada) ao mais alto nível, depois de tudo o que passou (a doença de Graves, relacionada com a tiróide, entre outros problemas) após os seus títulos de campeão do mundo e olímpico (2011 Daegu e 2012 Londres). Com uma brilhante medalha de bronze nos jogos de Tóquio, o “ressuscitado” voltou a fazer uma grande competição, com a merecida medalha de prata. E mais uma expressão de espanto do lado de mais um atleta britânico : Matthew Hudson-Smith conquistou o bronze, a sua primeira medalha individual em grandes competições. Fez lembrar o ar de espanto de Wightman nos 1500 m… Muito bom trabalho do clã britânico nestes mundiais. Um palavra final para Van Niekerk. O duplo campeão do mundo (2015 e 2017) e campeão olimpico (2016) onde bateu o record do mundo (43,03) que pertencia a Michael Johnson desde 1999 (43,18) fez uma boa prestação nestes mundiais: ainda estava a lutar por uma medalha a cerca de 40 metros da meta, mas a concorrência foi mais forte. O sul-africano acabou em quinto. No auge, em 2018, teve uma lesão grave num joelho, num jogo de râguebi com celebridades.

400 m (F)
 
Favoritismo absoluto do lado da supercampeã das Bahamas Shaunae Miller-Uibo. Impressionante na primeira ronda e meias-finais, foi também sem surpresas que fez a melhor marca mundial do ano (49,11) Em Doha 2019 Miller foi batida de uma forma surpreendente pela atleta do Bahrein (nascida na Nigéria) Salwa Eid Nasser, na altura com a terceira melhor marca de sempre (48,14). No entanto, em 2021 Nasser foi banida até fevereiro de 2023 por falhar a três controlos anti-doping. Esperava-se também uma medalha para a excelente atleta da Republica Dominicana Marileidy Paulino, e foi a de prata (49,60), repetindo assim a medalha dos jogos de Tóquio. Surpresa para a vencedora do bronze, para Barbados, com Sada Williams, com record nacional (49,75). Representou o seu país nos mundiais de 2017, na altura com 19 anos, mas não tinha passado das qualificações. Grande progresso !  

400 m barreiras (F)
 
Não sei bem o que escrever para falar da final feminina dos 400 metros barreiras. Fiquei um pouco como a vencedora. Ainda não percebi bem o que aconteceu, tal como a “alienígena” Sydney McLaughlin (muito tempo sentada na pista, “ao tentar realizar o que tinha acontecido antes de reentrar para a loucura que se segue”, segundo a própria) Quem esteve presente em Eugene também não deve acreditar. 50,68…. Não é possível…. 50,68 ?? aos 22 anos. Nãaaaao, não posso. Deixa-me ver outra vez. Sim, fez mesmo. Mas vamos voltar um pouco atrás para tentar perceber com que condições e estatuto Sydney chegou aos mundiais. Foi a primeira atleta a baixar dos 52 segundos, curiosamente em Eugene, o ano passado  onde bateu o record do mundo (51,90). Depois, venceu a final nos jogos olímpicos de Tóquio com um novo record do mundo (51,46). Voltou a entrar para a história ontem, ao sagrar-se campeã do mundo, estabelecendo um novo máximo mundial, abaixo dos 51 segundos (50,68). Num espaço de 13 meses, bateu o record do mundo quatro vezes (de 52,16 a 50,68). Um verdadeiro fenómeno. O que falta a McLaughlin ?? Aparentemente “o céu é o limite” apesar de parecer já ter alcançado a eternidade. “Surreal” com ela disse mas também “tudo é possível, há sempre coisas a melhorar”. E finalmente “o meu treinador diz que há mais coisas para conquistar”. Seguramente.  
Femke Bol, a única corredora capaz de se intrometer na luta pelas medalhas, venceu a prata (52,27). A holandesa não pára de surpreender e já uma atleta de topo mundial, comprovado pelo facto de ter passado Dalilah Muhammad, que era detentora do titulo mundial e que já foi recordista da distancia (ainda assim com 53,13 o seu melhor da época). Mas hoje, mais uma vez, nada se podia fazer perante a supersónica McLaughlin. Aconteceu mesmo ? Foi mesmo verdade ? Deixa-me ver de novo…  

Dia 9 (23/07)  

Decathlon  (M)
 
A competição mais completa e difícil dos campeonatos arrancou hoje e acaba amanha, dia do fecho do certame. E já aconteceu uma grande surpresa, com a lesão do campeão olímpico e incontestável favorito a conquista do ouro, Damian Warner. O atleta do Canada teve uma lesão muscular durante a prova dos 400 metros. Com este acontecimento, tudo passou a ser possível quando a decisão do novo campeão do mundo. 
Ayden Owens-Delerme (22 anos), de Porto Rico, está com uma ligeira vantagem ao fim de cinco provas.  

Triplo salto  (M)
 
Pedro Pichardo, sem nenhuma dificuldade e sem surpresas, qualificou-se para a final, com um primeiro ensaio a 17,15 ainda assim modesto para ele. Um dos melhores da história, o americano Christian Taylor (quatro vezes campeão do mundo e duas vezes campeão olímpico, e ainda detentor da segunda melhor marca da história (18,21) não se qualificou para a final, depois de um longo calvário com uma lesão no tendão de Aquiles antes dos jogos de Tóquio. No entanto fez os mínimos para estar presente em Eugene e foi bom voltar a vê-lo em competição. Na final, Pichardo, actual campeão olímpico, era o grande favorito e talvez só mesmo o atleta do Burkina-Faso, Fabrice Zango (bronze em Doha 2019 e Tóquio 2020), se podia intrometer na luta pelo ouro. Para alem da boa forma, trata-se de um atleta que está bem preparado para o futuro, porque tem uma licenciatura em electrónica tirada em França em 2018 e também está a trabalhar para tirar um doutoramento na mesma aérea, que espera concluir ainda este ano. Mas a verdade é que, logo a abrir o concurso, o saltador que representa Portugal não deu nenhuma hipótese, com uns impressionantes 17,95 (melhor marca mundial do ano) e como se não bastasse, voltou a estar perto dos 18 metros no segundo ensaio (17,92). O melhor que Zango fez foi a abrir o seu concurso, com 17,55, o que acabou por lhe valer a prata. O chinês Yaming Zhu, surpreendente medalhado em Tóquio com a prata, voltou a vencer uma medalha, desta vez o bronze (17,31) De novo com uma brilhante presença na final de uma grande competição internacional, depois dos jogos de Tóquio, Tiago Pereira fez 16,69 e acabou em décimo.  

800 m (M)
   
Muito equilíbrio a partida para a final, talvez com um ligeiro favoritismo para o leader mundial do ano, Marco Arop. Puxou na frente para evitar surpresas no fim, mas o canadiano não aguentou a recta final. Mais forte na última mudança de velocidade, o queniano Emmanuel Korir tornou-se campeã do mundo aos 27 anos (ele que nunca tinha estado perto de ganhar uma final) Impressionantes nas meias finais, a dupla argelina Slimane Moula e Djamel Sedjati (ambos com 23 anos) fizeram ressurgir o legado do seu país. No entanto, só Sedjati chegou ás medalhas, com a prata (Moula ficou em quinto) . O já citado Arop (que tem infelizmente uma historia comum de fuga a guerra no seu pais de origem, o Sudão, com passagem pelo Egipto antes de emigrar para o Canada) ainda conseguiu o bronze.  

5000 m (F)
 
Depois da explosiva final “ao sprint” dos 10000 metros, a final dos 5000 metros prometia, com algumas protagonistas do costume como Gidey da Etiópia e Kipkemboi do Quénia e a eterna holandesa Sifan Hassan. Numa prova invulgarmente lenta (mais parecia uma caminhada..), ninguém parecia muito interessado em dar um “safanão” na frente. Hassan, estranhamente fora do primeiro grupo, começou a recuperar terreno, voltou a encostar ao grupo da frente e aproximou-se das favoritas. Colocou-se na frente para a última volta, puxou ao seu estilo, mas ao entrar para a última recta, faltou-lhe o que nunca lhe tinha faltado até então, desde que chegou ao mais alto nível : um final arrasador. 
A etiópe Gudaf Tsegay foi a mais forte (depois do bronze de Tóquio na mesma distância). Ela é mais especialista nos 1500 m (bronze em Doha 2019, ouro nos mundiais indoor de Belgrado este ano e já medalhada nestes mundiais com a prata) Seguiu-se a queniana Beatrice Chebet e por fim Dawir Seyaum, que conseguiu assim a dobradinha para a Etiópia. Nem a campeã dos 10000 Gidey resistiu ao final (quinto lugar), mas foi a primeira a vir festejar com as bandeiras junto das suas compatriotas (e até nas fotos !).  

Dardo (M)
   
Uma final que prometia pelo que se viu na primeira fase. O surpreendente campeão olímpico Neeraj Chopra, da India, esteve excelente com uma grande marca de qualificação, claramente acima dos 88 metros. E o detentor do título também passou sem problemas : Andersen Peters, compatriota de Kirani James, de Granada (que não passou a final dos jogos de Tóquio), fez um lançamento muito perto dos 90 metros !! Na final, e a semelhança do que aconteceu com Pichardo no triplo-salto, Peters viria a ganhar o titulo no seu primeiro ensaio (90,21) e repetiu a façanha no segundo, passando novamente a marca dos 90 metros, e ainda melhorando a marca anterior (90,46). Que brutalidade. Obrigou Chopra a fazer uma prova sempre a subir, perante a pressão do checo Jakub Vadlejch (treinado pela lenda Jan Zelezny), que fez uma final muito regular (entre 83 e 88 metros). E a prata decidiu-se por apenas 4 centimetros (88,13 e 88,09). Depois de conquistar o título e aparentemente sem a mesma concentração, a verdade é que Peters fez a sua melhor marca da final, com uns expressivos 90,54 !!!! Não era preciso… 
Nota final para a excelente prestação do paquistanês Arshad Nadeem (quinto lugar com 86,16)    

4x100 (F)
 
Mesmo a jogar em casa, a equipa americana não podia ser favorita perante a composição do quarteto jamaicano. Vejam bem: para além da jovem Kemba Nelson, a iniciar a prova, tínhamos três da melhores do mundo: Elaine Thompson, Shelly-Ann Fraser-Pryce e Shericka Jackson. Muito menos mediáticas, as americanas foram bravas durante todo o percurso e Twanisha Terry (23 anos), com um grande avanço ao iniciar os últimos 100 metros, teve de sofrer para aguentar a recuperação quase épica de Shericka Jackson, realmente numa forma espantosa. A equipa britânica ficou fora das medalhas devido a uma lesão de Dina Asher-Smith, o que permitiu a Alemanha vencer o bronze.
Uma das atletas da equipa germânica, Tatjana Pinto, tem pai português e mãe angolana. Portanto, parte da medalha é nossa !!   

4x100 (M)
   
Nos Estados Unidos e com o quarteto que estava a “disposição”, difícil era não por o favoritismo do lado americano. E com o público ainda a vibrar com o titulo da equipa feminina. No entanto, a estafeta tem sempre um elemento chave ao longo dos anos : a sempre difícil transmissão do testemunho. E foi o que traiu a equipa americana. Tudo tranquilo no inicio, com Coleman para Lyles, Lyles para Hall mas tudo se complicou com a demora da passagem entre Elijah Hall e Marvin Bracy. Depois de um excelente trabalho da equipa do Canada com Arron Brown, Jerome Blake e Brandon Rodney, André de Grasse foi fulgurante nos últimos 100 metros, não deixando Bracy recuperar e surpreendendo o público que enchia o Hayward Field.   
De Grasse, pouco feliz nestes mundiais com a eliminação nas meias-finais dos 100 metros e a não participação nos 200 (distancia em que é o actual campeão olímpico), acabou em grande ! Nota final para o quarteto britânico, que ganhou mais uma medalha, a frente da Jamaica, sempre mais experiente e habitual candidato.  

Dia 10 - O Último dia

Decathlon  (M)     
Com a liderança provisória do jovem atleta de Porto Rico Ayden Owens-Delerme a entrada para as últimas cinco provas, existia uma incógnita quanto ao possível vencedor do titulo. 
Depois da triste lesão do favorito Damian Warner, o antigo campeão do mundo Kevin Mayer estava em sexto na geral mas somente a 234 pontos da liderança. Mais a frente, Pierce Lepage, do Canada, liderava com 2 provas por disputar, depois de ter ganho os 110 metros barreiras, mas Mayer e o norte americano Zachery Ziemek estavam a menos de 100 pontos, depois de terem feito a mesma marca no salto a vara. 
Faltava o lançamento do dardo e a sempre penosa última corrida, os 1500 metros. E foi precisamente no dardo que Mayer fez a diferença, com a melhor marca, acima dos 70 metros, amealhando mais 894 pontos. Ziemek ficou em sexto e Lepage em oitavo. 
A corrida dos 1500 metros nada podia mudar (ganha com larga vantagem pelo Porto Riquenho Delerme, quarto na geral) e o francês sagrou-se de novo campeão do mundo. Mayer (30 anos), detentor do record do mundo (9126 pts), já tinha ganho o título mundial ao ar livre em Londres 2017 e o de pista coberta em 2018. Tem ainda duas medalhas de prata nos jogos olímpicos do Rio 2016 e Tóquio 2020. 
Belíssima carreira para um atleta que, tal como Damian Warner nestes mundiais, teve uma lesão numa grande competição. Aconteceu em Doha 2019, quando liderava ao fim de 7 provas. O alemão Niklas Kaul venceu o titulo neste ano, o mais jovem campeão do mundo do Decathlon. Ficou em sexto na geral em Eugene. A classificação final dos medalhados : Mayer 8616, Lepage 8701, Ziemek 8676.  

E termina assim mais um grande evento mundial com records e performances extraordinárias.

Um agradecimento especial ao "jornalista" de serviço, sempre atento e a focar nos pormenores todos.
Melhor só mesmo ver.
Texto de Franck Carreira para @allinrace