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Doha 2019 - Mundiais de Atletismo

Doha 2019 - Mundiais de Atletismo

Outubro 02, 2019 / 1432

Doha 2019 - Mundiais de Atletismo

Os Mundiais, passo a passo, prova a prova      

Para quem acompanha estas grandes competições e para quem não conseguiu vamos, uma vez mais, recordar o que de mais relevante vai acontecendo, dia a dia.

Os mundiais de atletismo começaram na sexta-feira (27/9) em Doha, no Qatar. Com temperaturas altas e elevados níveis de humidade, as dificuldades para os atletas verificaram-se logo no primeiro dia, com a primeira prova fora do estádio Kahlifa (notas no primeiro dia). Para minimizar os efeitos climáticos, o estádio tem um moderníssimo sistema de refrigeração, que permite uma adaptação gradual, desde a entrada no recinto até a chegada a pista. A temperatura varia entre os 20 e os 24 graus. Mas fora do estádio, não existe esta possibilidade.  

Day 1 (27/9)  

 A maratona feminina começou nesse dia as 00:00, com 30 graus e cerca de 80% de humidade : um verdadeiro inferno para os atletas. A queniana Ruth Chepngetich foi a super-mulher que venceu a prova e a surpresa da noite foi a medalha de bronze conquistada pela atleta da Namibia Helalia Johannes, com 39 anos de idade.   
Na primeira meia-final dos 5000 metros (M), Jakob Ingebrigtsen, da Noruega, 19 anos, foi empurrado, fez alguns metros fora da pista, acabou a prova em quarto mas foi desclassificado. A federação norueguesa enviou um recurso e o atleta foi reintegrado para a final, onde vai fazer história : junta-se assim aos outros dois irmaos, qualificados na outra meia final : Henrik (28 anos, campeao europeu nos 1500m em 2012) e Filip (26 anos, campeao europeu nos 1500m em 2016). Que familia !!!   
 Ainda sobre a segunda meia final, o veterano Paul Chelimo, queniano que representa os USA de há uns anos para cá, foi pisado e perdeu uma sapatilha mas acabou a prova na mesma e no primeiro lugar.   
Braima Suncar Dabo (Guiné Bissau) e Jonathan Busby (Aruba) foram os heróis do dia numa das mais bonitas demonstração de fair-play que o desporto nos pode dar. Busby, muito desgastado na ultima volta e na iminência de cair foi ajudado por Dabo, que segurou o atleta até a meta, pouco se importando com o resultado final. Uma ovação merecida do público : o espirito olimpico ao serviço dos mundiais.
    
Day 2 (28/9)   

No salto em comprimento, o favoritismo estava claramente do lado da jovem promessa cubana, Juan Echevarría (21 anos) No entanto, e como o desporto é fértil em surpresas, quem acabou por fazer uma prova fenomenal foi Tajay Gayle. Ele que tinha conseguido o apuramento para a final em 12º (último qualificado) por 3 centimetros (7,89m). O jamaicano entrou de rompante na final com 8,46m e depois voou para a melhor marca mundial do ano e a décima melhor marca da história : uns incriveis 8,69m. O seu máximo era de 8,32m. Bravo.     

Impossivel passar ao lado da inesquecível medalha de prata do nosso atleta João Vieira nos 50km marcha. Mais uma vez, calor e humidade na prova apelidada pelo nosso marchador de “marcha do inferno” antes do inicio. Uma prova notável, de trás para a frente (21º aos 5 km, 13º aos 25 km,  7º aos 30 km, 3º aos 40 km) e um prémio mais do que merecido. Muitos atletas não chegaram ao fim, o que diz muito da performance do português de 43 anos, atleta mais velho a conquistar uma medalha em campeonatos do mundo. Brilhante!!   
 
O americano Christian Coleman não deu hipóteses na final dos 100 metros mas não passou ao lado da polémica : na sua jovem carreira falhou 3 controlos anti-doping e foi criticado por algumas figuras de primeiro plano, entre os quais o antigo campeão Michael Johnson. O canadiano André Degrasse, sempre muito regular, conquistou mais uma medalha (bronze). O campeão em título ficou-se pelo 2º lugar.

Day 3 (29/9)  

 Final do salto a vara (F) cheio de emoção e beleza !! Anzhelija Sidorova, russa e autorizada a participar nos mundiais como atleta neutra (devido ao escândalo de doping na Russia) venceu na ultima tentativa a 4,95 m, deixando a lindissima norte americana Sandi Morris com a prata, ela que parecia encaminhada para o ouro. A multi-premiada grega Stefanidi ficou com o bronze. Num caso raro, e talvez inédito, a sueca (mais uma beldade) Angelica Bengtsson partiu a vara num dos seus saltos e, com muito humor, disse que tinha gostado porque sempre foi um desejo !!        

Prometia muito e cumpriu : a final do triplo salto foi um grande espectáculo. Christian Taylor sagrou-se pela quarta vez campeão do mundo, apesar de 2 saltos nulos no inicio. Pressionado, deu um sinal da sua categoria, e sempre em crescendo, acabou com 17,92. Will Claye, o seu compatriota, foi soberbo, mais regular, todos os saltos foram óptimos, em que o mais fraco foi 17,53 (!!!) mas não chegou (17,74). A grande surpresa foi o bronze do atleta do Burkina Faso Hugues Zango, que no ultimo salto fez 17,66 e tirou a possibilidade do recém naturalizado português Pedro Pichardo chegar ao ultimo lugar do pódio.     

Shelly-Ann Fraser Pryce, 32 anos, voltou a não dar hipóteses nos 100 (F), com a melhor marca mundial do ano (10,71) e tal como Christian Taylor, sagrou-se campeã do mundo pela quarta vez consecutiva. Titulo mais especial porque foi mãe há 13 meses. Notável. Dina Asher-Smith, britânica, venceu a prata com uma excelente marca de 10,83 e promete ser uma candidata forte ao ouro nos próximos jogos olímpicos. Infelicidade : Daphne Schippers não entrou em pista por causa de uma lesão no adutor.        

 A China dominou completamente os 20 km marcha (F) com as 3 medalhas. A nossa Ana Cabecinha teve um meritório nono lugar : 45 atletas iniciaram a prova, 6 não acabaram (3 desqualificadas).

Day 4 (30/9)  

A muita aguarda final dos 400 metros barreiras prometia e foi um grande espectáculo : o jovem norueguês Karsten Warholm, surpreendente campeão do mundo em 2017, voltou a vencer com o peso da responsabilidade em cima dos ombros e respondeu com categoria, com 47,42. Benjamin (USA) e Samba (o homem da casa) deram luta mas não chegou para apanhar o excelente atleta da Escandinávia. O trio infernal tem sido apontado como candidatos a um novo record do mundo. E qualquer um dos três tem potencial para o conseguir.     

No salto em altura (F), a russa Mariya Lasitskene (também autorizada como atleta neutra) foi a mais forte de novo (2,01 em Pequim em 2015 e 2,03 em londres em 2017), mas com uma forte oposição da junior ucraniana Yaroslava Mahuchick, apenas com 18 anos, que acabou com mesma marca, 2,04 mas á terceira tentativa, que lhe valeu ainda assim a prata e que passa a ser o novo record do mundo na categoria junior. Também a jovem norte americana Vashti Cunningham chegou aos 2 metros á primeira, o que lhe garantiu o bronze, deixando a ucraniana Yuliya Levchenko, e uma das mais belas atletas da actualidade, fora das medalhas apesar de ter alcançado a mesma marca.        

A final dos 3000 m obstáculos teve um episódio pouco comum nestas competições : parecia uma táctica suicida por parte da corredora queniana Beatrice Chepkoech, que rapidamente ganhou um avanço que normalmente se revela fatal. Mas ela continuou com um excelente ritmo, talvez existisse um excesso de confiança por parte das opositoras, esperando uma quebra da atleta africana. Emma Coburn, dententora do titulo, ainda apanhou a prata.  

No disco (M), o sueco Daniel Stahl foi impressionante na qualificação e confirmou a excelente forma patenteada ao longo de toda a temporada, com um concurso muito acima da concorrência. Trata-se do primeiro campeão do mundo sueco desde o atleta do triplo-salto Christian Olsson, há 16 anos.    

Nos 800 m (F), a atleta do Uganda Halimah Nakaayi surpreendeu e venceu as favoritas Raevyn Rogers e Ajee Wilson. Apesar do andamento das americanas, Nakaayi manteve-se por perto, e com uma ponta final poderosa, arrasou a concorrência. Celebrou a conquista com uma dança juntamente com a sua compatriota Winnie Nanyondo, que ficou em quarto.       

 Na final dos 5000 m (M), os etiopes dominaram : Muktar Edris, com uma época pouca famosa (estava no lugar nº 17 no seu pais para os 5000m), recebeu um wild card para chegar a Doha e fez por merecer esta oportunidade (causou sensação em 2017 ao ser o único a bater Mo Farrah). Trata-se da terceira vez na história dos mundiais que um atleta acaba abaixo dos 13 minutos (Farah e Kirui são os outros). O seu compatriota Selemon Barega ficou com a prata e também com uma marca abaixo dos 13 minutos. Paul Chelimo, apertado pelos 3 etiopes (com Bekele) na parte final, não resistiu. Mas a prova ficou marcada pela histórica presença dos 3 irmãos Ingebrigtsen, da Noruega. Henrik rapidamente ficou para trás, acabando a prova em 13º. Filip e Jacob mantiveram-se praticamente sempre com o grupo da frente. Filip acabou por desistir a 2 voltas do fim, o que parece ter sido uma táctica para fazer de lebre para o seu irmão Jacob, que acabou em quinto.     

Na qualificação para os 400 metros, o campeão dos Estados Unidos Daniel Roberts ganhou a sua serie mas foi desqualificado (para além de ter derrubado a própria barreira) por ter tocado numa barreira do corredor do Sul-Africano De Vries. Os favoritos Ortega, McLeod, Holloway e Shubenkov qualificaram-se sem problemas.      

Day 5 (1/10)  

A final do salto a vara (M) foi mais um grande show, em que os 3 principais favoritos destacaram-se com naturalidade. Kendricks, actual campeão do mundo, com o polaco Lizek e o sueco Duplantis, foram os únicos a passar a barreira dos 5,80 m. A partir deste momento, as medalhas estavam garantidas, o que deve ter dado alguma tranquilidade aos atletas. Lisek ficou com o bronze, com 5,87 m. Kendricks, até então imparável, sofreu para seguir em frente, mas com classe, acabou por passar 5,87 no último salto. Aliviado, passou para a frente da prova, com 5,92 a primeira, marca que Duplantis só superou a terceira, o que permitiu manter acesa a discussão do título. Durante a parte final, observamos diálogos tranquilos entre os atletas, pouco comum em momentos de tensão como estes. Kendricks e Duplantis passaram 5,97 a última e seguiram para próxima fasquia. Já bastante desgastados pela quantidade de saltos, ninguém superou a marca dos 6,02 m e Kendricks revalidou o titulo. Num momento de descontracção, Kendricks abraçou Duplantis já depois do último salto deste, a que se juntou Lizek, a dar um mergulho no colchão !! Que bela imagem em atletas de alta competição, que por fim, fizeram, sempre ainda em cima do colchão, um mortal sincronizado a três. Lindo !! Palmas para eles !! Assim o desporto dá gozo.     

A final do dardo (F) estava a seguir o seu desenrolar normal, com as chinesas a dominar, quando aconteceu um golpe de teatro no final da prova : a bela australiana Kelsey-Lee Barber, até então fora das medalhas, arrancou um último lançamento para a história, passando de quarto para a frente do concurso, perante o espanto de todos, inclusive da própria. Até porque tinha feita a décima marca na qualificação.     

Nas qualificações dos 200 m (F), duas atletas conseguiram tempos fantásticos abaixo dos 50 segundos, Shaunae Miller-Uibo, das Bahamas (49,66) e Salwa Ed Naser, do Bahrein (49,79) mas o favoritismo está claramente do lado da atleta das Caraíbas para a grande final.    

A final do salto em altura (M) promete muito pelo que se viu na qualificação : 4 atletas com 2,29 m e mais 5 com 2,26 m : impressionante.    

Na final dos 800 m (M) Donavan Brazier (USA) venceu o ouro, com apenas 22 anos e tornou-se no primeiro atleta norte americano a vencer o titulo mundial nos 800 m (masculino ou feminino). O bósnio Amel Tuka, depois de muitos problemas físicos nos últimos anos, voltou em grande com a medalha de prata. O bronze foi para o queniano Ferguson Rotich.      

Sem surpresas, Noah Lyles (USA) conquistou o ouro nos 200 m, confirmou o favoritismo mas teve de se aplicar a fundo a seguir a curva para manter a liderança. Uma prova muita rápida, com os medalhados abaixo dos 20 segundos : Lyles 19,83 / De Grasse 19,95 / Quiñonez 19,98. O canadiano, sempre muito regular, voltou a ganhar uma medalha, e a sensação do Ecuador ficou com o último lugar do pódio.   

Day 6 (2/10)  

Final 200 m (F)   Actualmente uma das melhores sprinters do planeta, Dina Asher-Smith (GBR), 23 anos, esteve insuperável, com 21,88. Rapidamente se colocou na frente e a chegar a curva já estava bem destacada. Bateu o seu próprio record nacional que tinha conseguido nos últimos europeus, o ano passado em Berlim. Ela que já tinha conquistado a prata nos 100 m (atrás de Fraser-Pryce) com 10,83, também novo record nacional. Brittany Brown foi a única americana (em 3) a chegar ás medalhas, com a prata, e a surpreendente Mujinga Kambunji, primeira medalha da história da Suiça em provas de sprint.   
     
Final 110 m barreiras (M)   Grant Holloway (USA) fez um arranque explosivo e manteve-se na frente até ao fim. Impressionante. Era só a quarta competição desde que se tornou profissional. Queria ser atleta de futebol americano e sprinter mas o seu treinador convenceu a focar-se unicamente no atletismo (“stick with me and I promise that by the next Olympics I will have you ready”). Ele que também faz 8,17 m no salto em comprimento e 6,50’ nos 60 metros. Grande atleta. A prova não podia ter corrido pior para o campeão em título e campeão olímpico Omar Mc Leod : a meio da corrida e quando estava em recuperação para uma possível medalha de prata, tropeçou numa barreira e acabou por cair mais a frente. Pior : com o desequilibro, acertou no espanhol Orlando Ortega, que devido ao incidente, ficou em quinto. Serguey Shubenkov, muito competente ao longo dos mundiais, venceu a prata (13,15) e o francês Pascal Martinot-Lagarde (13,18) beneficiou do incidente mas com mérito, conquistou o bronze. Maias tarde a IAAF atribuiu a medalha de bronze ao espanhol após protesto da sua equipa.   

Decathlon
  A prova mais completa do atletismo arrancou ontem. Muito equilíbrio ao fim de 5 provas, com um ligeiro avanço para os 2 canadianos, Warner e Lepage, sobre o favorito e actual campeão Kevin Mayer, da França. Victor (Grenada) e Shkurenyov (Rússia como neutro) também muito bem, a frente do estónio Uibo, marido da velocista das Bahamas, Shaunae Miller-Uibo.   
  
Heptathlon   Duelo entre as mais sérias candidatas ao ouro, a campeã belga Nafissatou Thiam e a britânica Katarina Johnson-Thompson. Ao fim de quatro provas, KJT está a frente mas com uma diferença curta (96 pontos) sobre Thiam. E está na frente porque, provavelmente na prova em que tem mais dificuldades, o peso, saiu-se muito bem no último lançamento e reduziu a diferença (uns fracos 12,33 e 12,38 nos 2 primeiros e no último… 13,86 !!). Depois fez a diferença na liderança nos 200m, com 23,08 contra 24,60 da belga. Nos 100 m barreiras, a americana Kendell Williams fez uma marca sensacional de 12,58 (somente a 4 décimos do record do mundo da super-campeã britânica Jessica Ennis-Hill). Representa também uma marca acima da vencedora do titulo mundial das 100 m barreiras de Londres, em 2017 !!!      

Martelo (M)   O polaco Pavel Fajdek não deu hipóteses a concorrência. Rapidamente se percebeu que não ia ser fácil apanhar o tri-campeão do mundo. Passou os 79 metros no primeiro lançamento e ninguém conseguiu passar esta marca. Passou de novo os 79 metros, e duas vezes 80 metros. Imparável de novo. Trata-se do primeiro atleta a conseguir um quarto titulo mundial consecutivo : é obra. E esteve a conta com uma lesão o ano passado e teve sete meses para preparar-se para o evento. A surpresa da noite foi para o francês Quentin Bigot com a prata (78,19), um centímetro acima do hungáro Bence Halász. No entanto, a equipa polaca apresentou um protesto, alegando que Halász pisou a parte de fora do circulo no primeiro lançamento (78,18) que lhe deu o bronze. A organização conclui que irregularidades na competição prejudicou o polaco Wojciech Nowicki  (77,69) e que, numa decisão pouco comum, alegando procurar “devolver uma certa justiça para com os atletas”, decidiu atribuir 2 medalhas de bronze.       

400 m barreiras (F) meias-finais   Dalilah Muhammad (USA) passou com grande estilo a final. Campeã olímpica em 2016 no Rio de Janeiro, bateu em julho o record do mundo da distância, que durava há 16 anos (Yuliya Pechonkina 52,34 em 2003), com uma marca de 52,20. Juntamente com a britânica Sally Gunnell, é a segunda atleta de 400 metros barreiras a conquistar um titulo olímpico e um record do mundo. A compatriota Sydney McLaughlin também se qualificou com uma excelente marca, também abaixo dos 54 segundos.

Day 7 (3/10)  

400 m (F)   Provavelmente a maior surpresa dos mundiais : a super favorita campeã das Bahamas Shaunae Miller-Uibo foi “arrasada” por Salwa Eid Naser, do Bahrein (nascida na Nigéria, converteu-se ao Islão em 2014 e mudou de nome), e com a terceira melhor marca da historia dos 400 metros femininos : uns impressionantes 48,14 !!! Ao entrar para os últimos 100 metros, Naser já tinha um avanço significativo, perante o espanto de todos. A expressão de Miller-Uibo diz tudo, depois da corrida : nem ela consegue acreditar como foi batida e de forma tão clara. A sprinter do Bahrein, deitada na pista, ainda teve dificuldade em perceber o que tinha alcançado, o ouro e a marca de outro mundo. A jamaicana Shericka Jackson venceu o bronze. Pela primeira vez na história dos mundiais, 5 atletas acabaram abaixo dos 50 segundos.    

Heptathlon (últimas 3 provas)   Katarina Johnson-Thompson é a nova campeã do mundo, com um novo record nacional, com 6981 pontos e sexta nos melhores registos de sempre. A atleta de 26 anos bateu 4 records nacionais em sete provas. 14º no jogos olímpicos de Londres 2012, 5º nos mundiais de 2013, 6º no jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e 5º nos mundiais de 2017, e medalha de prata nos europeus de 2016. Sempre a crescer. Notável. A campeã do mundo de 2017 e da Europa e actual campeã olímpica Thiam, da Belgica, ficou com a prata.      
 
Decathlon (últimas 4 provas)   O dia foi marcado por um momento infeliz : a lesão do francês e actual campeão do mundo Kevin Mayer no salto a vara. Ficou lavado em lágrimas como é compreensível. Abriu caminho para o título para vários opositores mas nenhum dos principais candidatos ganhou o ouro. Num final emocionante, o jovem alemão de 21 anos Niklas Kaul venceu o título contra todas as expectativas (8691 pts), tornando-se no atleta mais novo a conseguir o lugar mais alto do pódio. E esteve em 11º no fim do primeiro dia de provas. A entrada para a última prova, uns sempre intermináveis 1500 metros, 4 atletas estavam em 43 pontos mas o alemão foi mais forte e venceu a corrida. Maicel Uibo juntou-se a sua esposa, Shaunae Miller-Uibo, com uma medalha de prata. O canadiano Damian Warner completou o pódio.  
      
Peso (F)   Sem surpresas Gong Lijiao, da china, voltou a conquistar o título, mas ainda apanhou um susto quando a jamaicana Danniel Thomas-Dodd ficou a 8 centímetros apenas. A alemã Christina Schwanitz ficou com o bronze, ela que, na sua carreira, já tinha ganho uma medalha de ouro e de prata. Completou a colecção..      

Qualificação triplo-salto (F)   Excelente prova, parecia uma final : as 12 atletas conseguiram marcas entre 14,12 e 14,42, entre as quais a nossa Patricia Mamona (14,21). Evelise Veiga e Susana Costa ficaram infelizmente pelo caminho. Uma final que promete porque muitas têm potencial para conseguir o titulo mundial. A veterana ucraniana Olga Rypakova (35 anos), campeã olímpica em 2012, não conseguiu chegar a final.      
  
Qualificação 1500 m (F)   Sem surpresas, a já campeã dos 10000 m nesta edição dos mundiais, Sifan Hassan, venceu com normalidade e será principal favorita ao ouro. Falta saber se o desgaste da corrida dos 10 km se fará sentir. Ontém não se notou nada. Parecia um treino para ela… De resto, muito equilíbrio nas duas series. 
    
Qualificação 1500 (M)   Jacob Ingebrigtsen venceu a primeira serie, juntamente com um grupo que se qualificou com uma diferença entre os atletas de 15 décimas (!!) O seu irmão, Filip Ingbrigtsen, qualificou-se em quarto na segunda serie, ganha pelo queniano Timothy Cheruiyot. No entanto, não passou ao lado da polémica, porque, com empurrões mútuos, acabou por provocar a queda do etíope Kumari Taki, que ficou fora da final. Uma curiosidade verificada hoje : o norueguês não foi desqualificado e tudo levava a crer que seria.     
Nota: A organização da IAAF abriu, quanto a mim, um grave precedente em duas provas. Na primeira, o lançamento do martelo (M), deu uma segunda medalha de bronze depois de uma recurso apresentado pela federação polaca. Ontém, voltou a dar duas medalhas de bronze na prova dos 110 m barreiras (M), depois da queda provacada pelo jamaicano Omar McLeod, que desequilibrou o espanhol Orlando Ortega. No primeiro caso, penso que seria lógico considerar nulo o primeiro lançamento de Halasz (se de facto se comprovasse que o atleta húngaro pisou a parte de fora do círculo) e dar uma única medalha de bronze para Nowicki. No caso de ontem, tal como aconteceu em tantas provas, trata-se de um incidente de corrida, e por mais injusto que possa parecer, deve ser só considerado como tal (mesmo com uma belíssima declaração de McLeod, que ficou de coração partido pelo que acabou por acontecer com Ortega, e que ainda disse que sentiu uma picada no músculo da perna na primeira barreira, e que deveria ter parado, porque custou uma medalha ao espanhol). No entanto, no passado, houve inúmeras incidentes de corrida e nunca houve nenhuma decisão como as do mundial de Doha 2019. Será preocupante se se mantiver o mesmo tipo de critérios. Veremos.    

Day 8 (4/10)

Salto em altura (M) - De todos os atletas da casa presentes nos mundiais, o mais forte pretendente a conquista do ouro era obviamente Mutaz Barshim. O dententor do título, num grande momento de forma, era mais do que favorito. Mas era mais do que isto. A partir do momento é que foi anunciado o Qatar como pais organizador, Barshim passou a ser a bandeira dos mundiais. Mas o caminho até Doha não foi fácil : há pouco mais de um ano, deparou-se com uma complicada lesão no tornozelo, com ruptura nos ligamentos e consequente operação. A possibilidade da presença nos mundiais passou a ser uma incógnita e uma corrida contra o tempo. Mas os heróis são feitos de uma fibra que os torna quase super-herois. Os sinais dados na qualificação foram óptimos e Barshim estava pronto para aquilo que viria a ser uma final frenética com um importante apoio do público, todo atrás da sua maior figura. Até então insuperável até 2,30 m, passou a ter dificuldades semelhantes a do campeão do salto a vara Sam Kendricks : sofreu para passar 2,33 m, esteve a beira do que seria uma enorme surpresa, mas num momento de alta tensão e ao mesmo tempo comunhão com o público, passou a terceira e libertou-se (tal como Kendricks). Voou até 2,37 e venceu o titulo. Arrepiante.
Bem deu luta a dupla russa Akimenko (tudo limpo até passar 2,35m, cheirou o ouro) e Ivanyuk (tambem 2,35) mas o heroi do Qatar confirmou o largo favoritismo e tornou-se no primeiro atleta no salto em altura a conseguir titulos consecutivos.

400 m barreiras (F) - Ao oitavo dia de competição, caiu o primeiro record do mundo. Talvez a melhor prova de velocidade dos mundiais, um duelo titânico entre a favorita Dalilah Muhammad (29 anos, uma das minhas preferidas..) e Sydney McLaughlin (apenas 20 anos). A estupenda prova de McLaughlin (52,23) obrigou Muhammad (52,16) a ir até o fundo das suas forças para se manter a frente até o fim. Há uma fotografia magnifica das atletas em cima da meta (visto de cima). Fabuloso.

3000 m obstáculos (M) - Se achava que a final feminina dos 400 m barreiras tinha sido muito disputada, afinal houve uma prova mais renhida, ao ponto de não poder existir uma diferença tão curta no cronómetro. Depois da meta, ninguém sabia quem era o vencedor. Os atletas tiveram de esperar uns segundos pelo resultado oficial. O queniano Consestus Kipruto revalidou o titúlo por uma unha negra (sem trocadilho..) com 8´01'35 contra os 8´01´36 do etiope Lamecha Girma, que "morreu na praia". Foi a melhor noticia para o multi medalhado atleta queniano, até então pouco feliz esta época. Mas foi o mais forte na melhor altura, a marca dos grandes.

400 m (M) - Depois da surpresa, e porque nao dizer desilusão na prova feminina, em que se esperava o titulo para Shaunae Miller-Uibo, o seu compatriota, Steven Gardiner, arrumou toda a concorrência com um corrida em que esteve ao mais alto nível. Um tempo canhão (43'48, novo record nacional), diz muito da sua performance e do avanço significativo sobre o surpreendente jovem colombiano Anthony Zambrano (44'15). O favorito para a final Fred Kerley (favorito porque o melhor do ano, o seu compatriota Michael Norman, foi eliminado, acabando em último na meia final, por causa de uma "lesão não especificada"), ficou-se pelo bronze (44'17).
Directamente afectado pela tragédia do furacão Dorian, Gardiner disse que as duas medalhas, com sua parceira de treino Miller-Uibo, significam muito e que são dedicadas ao povo das Bahamas. Kirani James, o atleta de Granada, antigo campeão do mundo e olímpico, conseguiu o grande feito de chegar a final, ele que tem batalhado nos últimos anos contra a doença de Graves (que afecta a tiróide).

20 km marcha (M) - O Japão volta a colocar um atleta no primeiro lugar, depois do titulo alcançado nos 50 km, o que promete muito para os jogos olímpicos do próximo ano. Toshikazu Yamanishi com uma diferença curta (15 segundos) sobre o russo Vasiliy Mizinov, venceu a prova, novamente marcada pelo calor e a humidade.
O sueco Perseus Karlstrom ficou com o último lugar do pódio.

Disco (F) - Um dominio completo da dupla cubana Yaime Perez (69,17) e Denia Caballero (68,44), deixando para trás as favoritas Perkovic, dupla campeã do mundo (Croácia) e as chinesas. Perez, que apanhou uma lesão 3 dias antes e que podia ter complicado a sua participaçao, alcançou a sua primeira medalha em grandes competições, depois de algumas desilusões, e agradeceu o seu fisioterapeuta.

Qualificação 1500 m (M) - Depois da barraca da organização, ao deixar Filip Ingebrigtsen participar nas meias-finais, talvez se tenha feito justiça, porque o atleta norugues não se qualificou para a final, ao contrário do seu irmão Jacob, na segunda meia final. De resto, sem surpresas, os principais favoritos vão estar na final.

Day 9 (5/10)

Final peso (M) - Parecia que ao primeiro lançamento que a concorrência dificilmente iria apanhar o norte-americano Bryan Crouser, com uma marca fantástica de 22,36 mas o neo-zelandês Tomas Walsh tinha outras ideias : no sua primeira tentativa atingiu 22,90 (!!!), terceira melhor marca de todos os tempos !! Mais : ainda numa fase inicial, o brasileiro Daran Romani fez 22,56 !!! 3 atletas nos 22 metros !! Que inicio halucinante !!!
Mais a frente do concurso, de repente, Joe Kovacs faz 22,91 no seu úttimo lançamento e passa para a frente por um centímetro, e de seguida Crouser faz 22,90 !!! Nunca se viu um concurso do peso assim. 3 medalhados num único centímetro. E um (infeliz) atleta que faz uma marca acima dos 22 metros e meio e fica fora do pódio. Épico !!!

Triplo Salto (F) - Yulimar Rojas, a grande favorita (treinada pelo cubano Ivan Pedroso) e actual campeã do mundo, fez um salto espantoso na segunda tentativa, com 15,37 (!!) e ameaçou alcançar o record do mundo (15,54). So lhe falta o título olímpico (em 2014 foi segunda atrás de Ibarguen).
As atletas jamaicanas, Shanieka Ricketts (14,92) e Kimberly Williams (14,63), não conseguiram chegar perto da gigante venezuelana (tem 1,92m), e lutaram pelas outras duas medalhas. Mas a antiga bi-campeã do mundo e campeã olímpica Caterina Ibarguen, da Colômbia, chegou ao bronze com um salto de 14,73.
Patricia Mamona, com um concurso muito regular, chegou aos últimos 3 saltos e fez uma prova muito meritória, acabando em oitavo, alcançando a sua melhor marca do ano.

1500 m (F) - Sifan Hassan arrasou de novo toda a concorrência. Na frente do pelotão desde o inicio, com um ritmo infernal, a holandesa, campeã dos 10000 m no incio da semana, ainda conseguiu mudar de velocidade na última volta e não deu hipóteses, com uma marca espantosa de 3'51'95, bem a frente das perseguidoras.
Primeira mulher a conseguir ganhar 10000 m e 1500 m na mesma competição, Hassan tem uma história no minimo inspiradora. Nascida na Etiopia, deixou o pais como refugiada e chegou a Holanda em 2008 aos 15 anos. Começou a correr enquanto estudava para ser enfermeira. Conseguiu a cidadania e começou a representar a Holanda em 2013. O resto é história.

5000 m (F) - A leader do ano da distância Hellen Obiri revalidou o titulo mundial. Ocupou rapidamente a frente da corrida e liderou até ao fim, com um sprint final mais forte. A sua compatriota, Margaret Kipkemboi acabou em segundo. Nas últimas voltas, só 3 quenianas e 2 etíopes estavam na companhia da jovem promessa alemã Konstanze Klosterholfen, que ganhou de uma forma sensacional a medalha de bronze. Vive e treina em Portland, nos USA. Mais nova, chegou a fazer de modelo na Berlin Fashion Week. Com 22 anos, é uma atleta a seguir nos próximos jogos olímpicos. 

Final 4x100 (F) - A Jamaica foi mais forte, perante o maior favoritismo das americanas e britânicas. Sem história. 

Final 4x100 (M) - A equipa americana venceu o titulo, a frente dos britânicos com equipa de luxo. Coleman, novo Campeão do Mundo e Gatlin vice dos 100 e ainda Lyles com Rogers a fechar a equipa, A surpresa veio do Japão, medalha de bronze.

Nestas disciplinas a desilusão para a China Femininos e França masculinos que falharam uma passagem de testemunho, momento sempre muito delicado e que já aconteceu a quase todas as selecções.   

Final day (6/10)    

Final salto em comprimento (F)  - Tal como para o triplo-salto, havia uma super-favorita ao título, a alemã Malaika Mihambo (nascida na Alemanha, de pai natural da Tanzânia e mãe alemã). Apesar de um início no mínimo estranho, confirmou o seu estatuto. Um primeiro salto muito modesto (6,52), com uma chamada incrivelmente longe da tábua (35 centímetros ??) mas que ironicamente lhe deu alguma segurança. Acontece que o segundo salto, muito bom, foi nulo... Estava em sétimo (só passam 8 para os últimos 3 saltos). Mas como todos os atletas de elite, arrancou um terceiro salto absolutamente brilhante : 7,30 m !! Só a lendária Jackie Joyner-Kersey fez melhor em mundiais (7,36 em 1987 e 7,32 em 1991). Aos 25 anos, Mihambo, que conseguiu mais 14 centímetros que a sua melhor marca, estava radiante. E tinha razão para estar : para além do título, conseguiu a décima-primeira melhor marca da história. O record do mundo, de 7,54 é perfeitamente alcançável com uma atleta desde calibre. Nenhuma atleta chegou a barreira dos 7 metros (a ucraniana Bekh-Romachuk ganhou a prata com 6,92 e a nigeriana Bruno o bronze com 6,90)   

Final 1500 m (M) - Também sem surpresas o queniano Timothy Cheruiyot, venceu, com um tempo fantástico, abaixo dos 3’30’ (3’29’26), e liderou desde o principio até ao fim. Limpinho. Medalha de prata nos últimos mundiais, venceu a diamond league em 3 anos consecutivos. O seu compatriota Kwemoi (20 anos, detentor do record junior da distância) seguiu-o no primeiro ataque, mas com o andamento fortíssimo de Cheruiyot, rapidamente voltou junto do pelotão. Maklhoufi, da Argélia, e Lewandowski, da Polónia conseguiram as medalhas. Jakob Ingebrigtsen, 19 anos e actual campeão da europa de 1500m e 5000m, ficou-se pelo quarto lugar, ainda assim como melhor europeu.   

Final dardo (M) - Inesperado. O atleta de Granada Anderson Peters é o novo campeão do mundo, com apenas 21 anos. Grande evolução desde os últimos mundiais, em 2017, em que não tinha passado da qualificação. Magnus Kirt, da Estónia, ganhou a prata (86,21m) mas foi o azarado do dia. Não acabou a prova porque se lesionou depois de um lançamento, caiu mal em cima do ombro, o que parece ter sido uma luxação. O alemão Johannes Veter acabou com o bronze (85,37m) mas deixou um certo amargo de boca porque tinha feito um lançamento nas qualificações que lhe tinha dado o ouro com claridade : 89,35m. 10000 m (M) Muitos pretendentes ao título, numa armada africana sempre fortíssima. Algum da Etiopia ou Quenia como vencedor ? Não. Joshua Cheptegei, do Uganda, foi o mais forte, com a melhor marca mundial do ano (26’48’36) e segundo melhor registo da história dos mundiais. Kejelcha (ETI) bem tentou passar Cheptegei na última reta mas o ugandês aguentou o ataque. Kipruto (KEN), 20 anos apenas, garantiu o bronze.   

110 m barreiras (F) - Dobradinha para os Estados Unidos. Nia Ali, mais conhecida como “supermom”, 30 anos, tem um filho de 4 anos (com o atleta olimpico Michael Tinsley) e uma filha de um ano apenas (com o sprinter canadiano André de Grasse). Depois da conquista, tirou fotos na pista com os filhos. A compatriota Kendra Harrison e a jamaicana Danielle Williams eram as mais cotadas a partida para a final mas Ali provou que, conforme o que disse, “fazer bébés nos torna mais fortes ; é possível ser mãe e continuar a ser bem sucedida. Shelley-Ann e Allyson (que também continuaram a ganhar depois da maternidade) são uma inspiração para mim”.   
4 x 400 (F)  - A não ser que houvesse um problema com a passagem do testemunho, a super-equipa americana dificilmente iria deixar de conquistar mais uma medalha de ouro. Só a presença da dupla Mohammad e McLaughlin dava garantias de sucesso (lembram-se da frenética final dos 400 m?). Phyllis Francis, campeã do mundo em 2017 e a estrela em ascensão Wadeline Jonathas completaram o “quarteto fantástico”.. Brilhante segundo lugar para a Polónia, com um último percurso assombroso da campeã europeia Justyna Swiety-Erzetic. A Jamaica, que tinha ficado com o bronze, foi desclassificada por transmissão ilegal. As britanicas ganharam assim a última medalha.    

4 x 400 (M) - O quarteto americano esteve sempre na frente e venceu com tranquilidade, com o tempo mais rápido dos últimos onze anos (2:56’69). Seguiu-se a Jamaica e uma surpreendente equipa belga, primeira medalha de sempre para a estafeta. Kevin Borlée, um dos três irmãos também atletas, resistiu ao último ataque do já medalhado nos 400m, o colombiano Zambrano, e conseguiu um feito inédito para a Bélgica. Desilusão para os britanicos, que não acabaram a prova com um problema na transmissão.

Para o ano temos Jogos Olímpicos que prometem mais grandes performances. Até lá!


Trabalho realizado por Franck Carreira em exclusivo para Allinrace